Uma pergunta recorrente em nossas palestras e workshops é sobre a diferença entre os aromas masculinos e femininos.
Além disso, não raro ouvimos mulheres dizerem que gostam de usar perfumes masculinos e vice-versa.
Na Antiguidade não existia esta diferenciação pelo simples fato de que a matéria prima era retirada diretamente da natureza e as pessoas usavam os aromas segundo suas necessidades de proteção ou cura, na maior parte das vezes utilizando “apenas” a intuição. E o mais importante, a preocupação com setores mercadológicos e estratégias de venda do produto não existiam então.
Digo apenas porque a melhor forma de se escolher um perfume é exatamente através da intuição e da sensibilidade. Afinal, o sistema olfativo é primitivo, está ligado à sobrevivência.
Se o indivíduo gosta do aroma, significa dizer que equilibra algo nele que estaria em excesso ou falta em seus sistemas.
No nível emocional vem cumprir com a função de ressaltar alguma qualidade que já ali estava, só aguardando um empurrãozinho para entrar em ação.
É claro que a razão alegada para a classificação masculino/feminino geralmente é de que a pele masculina seria mais oleosa, mais espessa e com Ph mais ácido por exemplo.
Além dessas razões, muitos autores apontam para a diferença hormonal entre os dois gêneros.
Essa segunda hipótese pode ser levada em consideração no que diz respeito às quantidades de determinados hormônios em cada um dos indivíduos – este sim é um fator bastante importante, já que causam alterações no Ph da pele. Como o perfume é utilizado nela, ali se mistura com os fluídos corporais, resultando numa sinergia única. Só não podemos esquecer que estas descargas hormonais são modificadas de acordo com o estado de espírito da pessoa.
Temos que lembrar que raiva, medo, depressão, alegria, euforia e todas as emoções humanas, para cada uma delas, um hormônio é secretado e que cada uma dessas emoções tem aroma diferente. Sutil? Acha mesmo? Chegue perto de alguém com raiva, respire fundo e depois me conte.
Assim, dependendo da pessoa, do dia, do momento que está passando, esses fluídos se modificam e o aroma do perfume também.
Conheço centenas de mulheres que só gostam de usar perfumes masculinos e homens que se identificam mais com os aromas femininos. Isto tem uma razão de ser. Aliás, é exatamente por esta razão que fazemos perfumes personalizados com óleos essenciais, pois estes propiciam maior interação com o organismo humano, já que são perfeitamente absorvidos pela pele, entrando em contacto com a corrente sanguínea.
Essa preferência por um aroma masculino pelas mulheres e vice versa, é perfeitamente compreensível, para não dizer que tem toda uma lógica. É nela que baseio o meu trabalho. Equilibrar aquilo que está faltando ou em excesso.
Para ilustrar melhor, vou contar o caso de uma cliente que só gostava de usar aromas florais temperados com uma ou outra especiaria até o momento em que mudou de profissão. Ela trabalhou como instrutora de yoga durante muitos anos, até precisar mudar de cidade e de estilo de vida.
Abriu uma rede de produtos naturais, onde precisa lidar com fornecedores e clientes, além de comandar dezenas de funcionários.
O que isto significa em termos de mudança prática, certamente se refletiu em seu temperamento calmo. Viu-se obrigada a ser mais assertiva, organizada, prática e às vezes precisando “vestir a capa de durona”.
Procurou-me dizendo que não mais gostava de seu perfume, achava até que a estava enjoando, queria fazer uma nova consulta. Foi rápido, pois eu já podia imaginar a razão de tal mudança. Comecei por dar-lhe para experimentar alguns óleos amadeirados, ao que reagiu super bem, continuei testando seu olfato com o óleo essencial de petitgrain que além de ter a função de levantar o humor, ajuda na autoconfiança e expressividade.
Após misturar alguns óleos diferentes, a maioria com aroma amadeirado com umas gotinhas de olíbano, a fim de não deixá-la esquecer de seus valores espirituais, mantendo-se fiel a si mesma. O resultado foi um perfume,que se fosse comercializado industrialmente, certamente seria classificado como masculino.
Entretanto, como o último tempero de um perfume é a pele (e a atitude) de quem o usa, o aroma a vestiu muito bem e ela se mantém fiel a ele por mais de três anos. Comenta que as pessoas são unânimes em dizer que seu perfume é feminino e sensual.
Definitivamente não é o perfume em si que causa este efeito, e sim a forma que ela se sente e se comporta utilizando um perfume masculino, exercendo uma função ativa e que requer um bom jogo de cintura, que é a de empresária “durona”, porém sem perder a ternura.”
Isto seria praticamente impossível sem a contribuição do patchouli trazendo a sensação de liberdade; do cedro, emprestando sua visão da totalidade, abrindo horizontes para além do óbvio, a firmeza no caminhar do sândalo e a sensação de estar onde precisa estar que o olíbano empresta àquele perfume no caso desta cliente. Sem falar no jogo de cintura do grapefruit traz. O resultado foi uma sinergia elegante, que traduz o momento da cliente.
Enfim, a resposta para a pergunta é que justificaria a classificação por gêneros tendo em vista os tipos de pele, mas o que determina são mesmo os hormônios e o momento emocional de cada um.
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