O artigo de hoje não é bem um artigo. É uma fábula que acontece na Floresta do Mingau. Por que esse nome, nem pergunte, porque não faço a menor idéia, mas é esse o nome da floresta mesmo, confirmado e registrado no mapa.
Lá se passa uma questão muito difícil entre o reino das formigas e o reino das girafas. Lilica é uma formiguinha muito marrenta e que gosta de questionar tudo. Tem horas em que parece criança, em outras, uma adolescente rebelde, sem contar que em outros momentos a gente pode jurar que se trata de uma anciã sábia, com respostas e conselhos para todos.
Um dia desses, ela num momento criança questionadora, quis saber como a girafa Marieta, uma que freqüentava a área onde Lilica morava, quando abaixava a cabeça e levantava o pescoço rápido não caía, já que ela aprendeu na escola que o cérebro precisa ser oxigenado e sem sangue não rola nada, ou seja, a girafa não viveria.
Isso tudo ela concluiu por prestar atenção na distância entre o coração e a cabeça de Marieta. Ficava achando estranho… como uma cabecinha tão pequena e um pescoço tão grande conviviam em harmonia naquele animal.
Imaginava que o sangue para voltar para a cabeça da girafa deveria fazer uma viagem muito rápida. Só de pensar, ela mesma, ficava tonta…
Para contar a verdade para vocês, Lilica implicava um pouco com Marieta porque o coração dela fazia tanto barulho que ela, uma pequena formiga, ficava um pouco perturbada com todo aquele som… Tum … tum.. turumtumtum…!
Ela prestava atenção em tudo, claro, também pudera. Ela perguntava e ninguém respondia, então ela tratava de perguntar e buscar as respostas de que precisava. Era como se a Lilica menininha perguntasse à Lilica anciã. E o mais legal é que a anciã respondia.
Assim, ela foi pesquisar na escola aquilo que não conseguia através da observação. Perguntou à professora porque a girafa não desmaiava quando abaixava e levantava a cabeça. Tinha observado que ela permanecia mais tempo com a cabeça abaixada do que em pé. Vivia comendo folhas, bebendo água e comendo folhas… e era tão magra…! Lilica tinha um pouco de inveja, porque ela era uma formiga gordinha.
A professora explicou que a girafa tinha uma espécie de mangueirinha no coração. Na verdade, duas – por uma passava o sangue que abastecia os pulmões, que alimentava o corpo todo. A outra, com um sangue todo especial, mais fino, alimentava o cérebro da girafa – um coração bem grande, muito maior do que o dos outros animais e por isso mesmo, barulhento.
Lá foi Lilica com assunto para continuar pensando na vida da girafa e descobriu que todos os animais se guiavam por aquele som. Tum tchurumtchumtum… Nossa… que barulhão! Todos sabiam que estava amanhecendo, devido ao som do coração de Marieta.
E assim ela seguiu prestando atenção. Ela era um pouco poética, e ligadona nas coisas da natureza. Em tudo via um motivo, e quando não via, pesquisava. Acho até que era um pouco romântica a sua visão da vida.
Um dia Lilica estava andando calmamente sobre uma pedra, quando de repente ouviu turuntchuntum pulsar bem alto. Ela até se assustou. Chamou as amigas e saíram rapidamente tentando descobrir o que era aquilo.
Ah… Marieta havia deitado! Acontece que as girafas pouco dormem na floresta porque precisam ficar atentas a tudo. Ela tem aquele pescoção e a visão além do alcance justamente para cumprir essa função de guardiã. E claro, preservar o próprio pescoço.
Puderam perceber que estava anoitecendo e era a hora em que Marieta tirava um cochilinho. Apenas cinco minutos. Assim, quando a floresta ouvia aquele som, todos sabiam que estava na hora de diminuir o ritmo e aumentar a atenção, pois anoitecia.
Lilica então explicou para as amigas tudo o que havia aprendido. O coração de Marieta avisava sobre os perigos, os horários do dia e até quando viria tempestade, chuva, aumento de temperatura, tudo…!
Ela aprendeu isso tudo porque resolveu não só prestar atenção, mas estabeleceu contacto com Marieta, que demonstrou-se muito simpática e deu uma carona para Lilica no alto de sua cabecinha.
Enquanto caminhavam, conversavam. Marieta explicou para ela que naqueles cinco minutos em que deitava, fazia isso algumas vezes ao dia, poucas, mas era o suficiente para descansar, eram momentos em que estabelecia contacto com os corações à sua volta de maneira mais preciosa.
Ela sentia a vibração de tudo. Enviava sinais através de seu coração para todos os seres da floresta. Lilica, muito indiscreta quis saber qual a razão de seu coração estar mais barulhento ultimamente.
Marieta contou que estava apaixonada por um girafo que morava longe, mas mesmo assim eles se comunicavam à distância, até brincou que têm um sistema bem legal e não precisam de telefone celular nem internet, mas sim, era um namoro virtual por enquanto.
Contou que ele estava para chegar por ali faltava apenas um por de sol. Lilica perguntou se poderia vê-los namorando. Marieta riu e falou que claro que não. E por isso mesmo a carona iria terminar quando ele chegasse. E assim aconteceu.
Ah… pensam que ela se conformou? Ficou de longe observando… Achou lindo aquele tipo de namoro… Eles cruzavam e esfregavam os pescoços… E ela ali, esperando mais até que sua avó chegou e mandou-a ter juízo. Explicou que quando um casal se encontra, as pessoas ou animais devem respeitar a privacidade deles.
Explicou que cada ser é único e que por mais que saibamos da vida do outro, nunca saberemos completamente. Acabou contando para Lilica aquilo que ela sempre buscou saber.
“Para conhecer o outro, sinta o pulsar de seu coração.” Lilica pensou então porque abraçar as pessoas era tão importante! Entendeu melhor alguns humanos. Via que as pessoas quando se olhavam mais demoradamente e se abraçavam, era igual quando Marieta encontrou seu namorado, o coração pulsa de forma diferente.
A partir daquele dia, sua observação tornou-se conhecimento e passou a ensinar a todos que deveriam observar o bater do coração da girafa e os efeitos benéficos e protetivos que isso tem.
Alertou que como o coração da girafa dava um ritmo diferente à vida de todos os habitantes da floresta, os corações das pessoas deveriam ser também observados, pois é o pulsar deles que dá a vida, o tom, o ritmo e a vibração que elas emanam.
Viu que se observassem isso, as pessoas pouco se enganariam com as outras, ficaram em uma sintonia melhor umas com as outras e até entendeu mais uma função do pescoço da girafa.
Viu algo parecido com os humanos que têm o hábito de beijar o rosto um do outro. Pensou que talvez fosse para sentir o cheiro que o outro emana, como Marieta depois explicou aquela espécie de namoro. Ela disse que ao esfregarem o pescoço, sentem se o namoro pode ir mais adiante, intimamente, o cheiro do corpo fala muito da saúde e da alma dos seres.
Descobriu sobre o hábito dos humanos usarem perfume no pescoço… justamente para mandarem uma mensagem do que se passa com eles, como são. Cada perfume passa uma mensagem. Claro que isso é outro assunto que Lilica observou e depois vai contar para vocês suas percepções.
Agora tinha duas coisas para ensinar aos humanos. A primeira coisa foi que deviam abraçar-se mais e sentirem o pulsar do coração daqueles que após sentirem o cheiro, confiassem.
A segunda coisa foi que se a girafa conseguia com seu coração doar segurança e ritmo à floresta, os seres humanos poderiam fazer o mesmo. Bastava unir seus corações. As palavras podem enganar, podem ter tons cortantes ou suaves, mas isto é possível num nível superficial disfarçar e fazer as pessoas acreditarem… Mas o pulsar do coração? Nunca!
Imaginou como seria se todos entrassem em uma única sintonia, com os corações batendo no mesmo ritmo. Imaginou que isso poderia ser o que os humanos tanto falam, mas ainda não conhecem muito bem. Talvez isso fosse o que chamam de Amor.
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