A razão do poeta

DSC00545Temos aqui uma poesia de T.S. Eliot, que, de certa forma, é uma poesia alquímica. Fala de transcendência, atemporalidade ainda que subjetiva, demonstrando uma noção do Infinito Sagrado que é o Tempo, que sou eu, que é você.

A poesia é Four Quartets, a qual menciono apenas a primeira parte de Burnt Norton.

A ideia não é discutir filosofia, religião ou mesmo poesia, ao contrário, a intenção é apenas compartilhar a possibilidade que a poesia dá de provocar sensações, insights e elevar-nos a um estado quase transcendente onde esteve o poeta.

Provocar o pensamento e o próprio sentimento, criando um espaço sagrado no não lugar, no atemporal, entre o material e o imaterial, sem ideia de passado ou futuro, onde tudo simplesmente É, ou quem sabe, apenas demonstrar que o poeta incontestavelmente tem sempre razão, ou seria não-razão?

The Four Quartets – Burnt Norton
Tempo presente e tempo futuro
Ambos são, talvez presente num tempo futuro,
E o tempo futuro está contido no tempo passado.
Se todo tempo é eternamente presente
Todo o tempo é irredimível.
O que poderia ter sido é uma abstração
Remanescendo uma perpétua possibilidade
Apenas no mundo da especulação.
O que poderia ter sido e o que foi
Apontam para o mesmo fim, que é sempre o presente.

Passos ecoam na memória
Pelos caminhos que nunca tomamos
Rumo as portas que nunca abrimos
Adentro o jardim de rosas.
Minhas palavras então,
ecoam em sua mente,
Mas para qual propósito
Perturbando terra numa bacia de pétalas de rosas
Não sei.
Outros ecos vivem no jardim.
Deveríamos segui-los?
Rápido, disse o pássaro, ache-os, ache-os
Dobrando a esquina, pelo primeiro portão
Adentro do nosso mundo primordial, vamos seguir
A trapaça do sabiá? Adentro nosso mundo primordial.
Lá estavam, dignificados, invisíveis,
Se movimentando sem pressão, sobre as folhas secas,
Na quentura do outono, através do ar vibrante
E o pássaro cantou, em resposta à
música não ouvida, escondida nos arbustos
E as despercebidas rosas cruzaram a visão
Tinham a aparência de flores que são observadas.
Lá estavam como nossas convidadas, aceitas e aceitando.
Então movemo-nos, e elas, numa forma moldada,
Ao longo do beco vazio, no canteiro circular
Para olhar abaixo a poça drenar
poça seca, concreto seco, bordas marrom
E a poça estava cheia do brilho aquoso do sol
E flores de lótus ascendiam,calmamente, calmamente
A superfície cintilava do coração da luz,
E estava atrás de nós, refletida na poça
Então uma nuvem cruzou, e a poça ficou vazia.
Vá, disse o pássaro, por que as folhas estão cheias de crianças,
Escondidas e empolgadas cheias de risos
Vá, vá, vá, disse o pássaro: Seres Humanos
Não conseguem suportar muita realidade.
O que poderia ter sido e o que foi
Apontam para um fim, que é sempre o presente.

Valéria Trigueiro

Valéria Trigueiro é perfumeterapeuta com experiência na elaboração de perfumes personalizados segundo o equilíbrio dos 4 Elementos. Seu trabalho define-se como "Aromaterapia e Espiritualidade.

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