As Constelações, A Alquimia e as Mães

De como começou uma conversa entre as Constelações Familiares e a Alquimia, e a decisão de transcrevermos parte de seu conteúdo em forma de texto:

 “Ser mãe, mãe sagrada, mãe sangrada, mãe viva, mãe morta. Mãe que se doa em sacrifício, porém na dádiva maior que jamais será retribuída – a vida. Mãe ancestral, mãe milenar, mãe história. Mãe Terra!” (Marcelo Barroca)

Era uma sala muito grande. No chão, viam-se colchas coloridas, almofadas, troncos de árvores, esteiras de palha e até lençóis brancos como nuvens. Havia um número imenso de mulheres, que de onde vejo, me é impossível contar. Entretanto, escuto à perfeição tudo o que ali se passa.

Ao anoitecer, a sala encontrava-se em profunda escuridão, onde só as vozes eram ouvidas, porém em determinado momento, como se por obra de alguma fada ou feiticeira, o telhado da sala abriu-se como se alguém tivesse acionado um botão mágico. A lua em sua plenitude entrou na sala prateando os cabelos e os olhares de todas as presentes.

Naquele momento ninguém tinha nome distinto ou mesmo idade. Todas chamavam-se “Mãe”. É verdade que algumas ao assim serem chamadas olhavam para a própria Lua em busca de algo, quem sabe a sua própria mãe?

Foi um instante, uma fração de segundos no qual estavam todas imersas em estado de contemplação, como se falassem com a Lua e nada mais houvesse à sua volta. Alguém surgiu no recinto, que à essa altura, paredes já não mais havia, quem sabe por encanto? Agora eram apenas as mulheres, as colchas,  a terra, a lua e as estrelas, uma belíssima senhora, cujos pés eram magros e longos, como as raízes de uma árvore, seu corpo esguio e ao mesmo tempo forte, seus cabelos esvoaçantes pareciam folhas, bem como seus braços, ao falar, faziam movimentos de caules suculentos em direção ao céu. Conforme falava, exalava diversos aromas como o de terra molhada e grama recém-cortada, e ao pronunciar a palavra Mãe, o aroma se apresentava doce, morno, com um toque floral sem dúvida.

Na verdade, o nome desta mulher também é Mãe, mas prefere ser chamada Gaia. Veio trazendo um recado. A cada vez que falava a palavra “Mãe”, o fazia no singular, apesar de falar para centenas de mulheres. Começou sua conversa em tom baixinho como um sopro doce, porém conforme ia falando, podia-se notar que seu tronco era forte, parecia até que usava um escudo de cascas de árvore. E assim dirigiu-se a todas elas:

Mãe, estou aqui presente para dar-lhe um recado. Eu sou Gaia, portanto sou, estou e permaneço. Verdade é que vocês também, porém não têm consciência disso. E por esta razão estou aqui. Sei que algumas de vocês guardam em si traumas, medos e a sensação de nada terem a oferecer; outras têm tanto que se perdem e não sabem onde estão elas e onde estão os filhos. Se misturam, descontrolam, desrespeitam o indivíduo que é aquele que saiu de seu ventre, mas não é seu. É um Ser do Universo.

“Sim, estou ouvindo o que pensam, nem precisam falar caso não queiram, mas a cada vez que vocês se adiantam em protegê-los, estão, na verdade, os desprotegendo, mandando uma mensagem de que eles precisam de proteção, pois são indefesos e não têm como agir por conta própria, tornando-os  eternos dependentes de vocês.”

Todas fazem por amor, bem o sei, porém, o Amor, este eterno incompreendido, leva a culpa das maiores bobagens e até de barbaridades que o ser humano em estágio de humanização faz. Você o protege por um medo que é seu e ao filho não pertence. Um presente para ambos será lavar seu medo e seu filho será bem sucedido e forte em tudo o que fizer na vida. Que tal?

Você já parou para pensar porquê age assim? Não. Não pense que eu esteja aqui para julgar, ou mesmo para embrulhá-la em um só pacote com um único rótulo. Sou mãe de todas vocês. E é por isto que estou aqui. Vim contar um segredo, que na verdade, é minha experiência de longa data como Mãe.

Você conhece sua própria história? Sabe como foi seu nascimento? Como sua mãe se sentia no momento? Em que situação você foi gerada? Quais as condições do parto, momento de vida de sua mãe, de seu pai… Como estava a família deles, portanto a sua família, como um todo? Em harmonia? Qual a reação à sua chegada?

Percebem? Cada uma tem uma história, que apesar de muitas delas se repetirem, como por exemplo – “fui um erro de minha mãe”; “nunca conheci meu pai – minha mãe não sabe exatamente quem é; “meus avós me rejeitaram…, “minha mãe não liga a mínima para mim…”

Conforme Gaia falava, umas choravam, outras se remexiam, e claro, aquelas primeiras que contemplavam a Lua a cada menção da palavra mãe, eu tinha a sensação, que olhavam mais além da própria Lua, como se ali não estivessem. Era como se buscassem abrigo. De qualquer forma, Gaia falava e não se detinha, pois como a Mãe de todas elas, mais velha, mais sábia e experiente, sabia exatamente o poder de uma semente. As palavras são sementes que germinam quando o solo está preparado, ou seja, quando o coração precisa daquelas palavras, elas florescem, e enfeitam a consciência de cada indivíduo. Continuou:

“Você, na qualidade de filha, sabe como sua mãe se sentia ao engravidar, sabe todos os passos, os pensamentos, sensações, emoções, amores e temores dela – você estava lá – morava dentro de seu ventre. A memória não está na mente e sim em seus corpos sutis, que são um campo vibracional poderosíssimo, que  pode ser acessado. Digo mais: deve ser acessados para que ao conhecerem a história de sua mãe, conhecerão melhor a sua própria história, vida e até determinadas reações até então incompreensíveis.”

Sua mãe pode lhe haver contado histórias sobre as suas avós, você mesma pode ter convivido com elas, e ainda assim não conhecer algo de que precisa para a sua própria vida. A história de cada uma é alimento para a alma. Você está aqui em processo – a Vida é um processo, pois ao acabar-se, a obra estará completa. Volta-se ao estado semente de volta ao solo, gestação de novo fruto em novas condições, vivendo o ciclo do Infinito.

Quando insisto que a história de cada uma é importante, me refiro à necessidade de desfazer um equívoco histórico: “sua mãe é sagrada por haver lhe abençoado com a vida, que é uma oportunidade de evolução, aprendizado e contribuição com o Planeta, pois você está aqui por uma razão. Fazer valer o privilégio é sua função. Ser grata é condição de sobrevivência.

Contudo, apesar de sagrada, ela é humana, e como tal, tem falhas humanas, errou um pouco, ou talvez tenha errado muito com você, com a família, quem sabe com a humanidade? Tudo isso pode e deve ser considerado, porém algo por você ela fez – ainda que não tenha planejado ou desejado, ela segurou, alimentou e abrigou você dentro do próprio corpo, possibilitando-lhe a vida. Meu recado: Não desperdice a oportunidade! Você não sabe a importância disso, tampouco quanto isto foi importante para ela, para você e é importante para o Universo.

Na qualidade de Mãe, posso dizer-lhes que sou muitas, pois sou mãe, avó, bisavó, tataravó e um sem número de ancestrais que nem imaginam…! O que me torna uma boa mãe? Me reportar à infância, à adolescência ou ainda à vida adulta e me ver filha. Como é ser uma boa mãe? É viver exatamente o meu desejo de mãe sob o ponto de vista da filha? Em parte sim, mas certamente, atender aos meus desejos e necessidades como filha sob o ponto de vista materno. Quanto aos desejos não atendidos, descobrir as razões porque não o foram, talvez exatamente nesta resposta esteja uma benção. Calçar os sapatos de seus ancestrais e observar-lhes o caminhar pode ser a via mais fácil para acessar a sua própria estrada.

Nesta minha jornada já vi muita coisa que me chamou a atenção. Vi o Mundo mudar em muito, geração após geração, cada uma diferente da outra, a atual criticando a anterior, que por sua vez, criticava as gerações anteriores a ela, e assim, anos e séculos atrás, eu já estava lá. Desta forma aprende-se que só deixando de julgar aquilo que você não sentiu, aquilo que você não sofreu na pele e aceitando que tenha sido da que forma foi, houve uma vitória e você é o símbolo e prova vida disto.

Pude ver mulheres parirem para dar continuidade às dinastias, outras não poderem sequer ver seus filhos, posto serem estes vendidos para gerarem mão de obra barata, ou entrarem no lugar de algum filho não nascido de uma nobre, bastava ter os atributos físicos “adequados”. Não importava se filhos de escravas, camponesas, ou de quem fossem. Muitas vezes filhos do nobre senhor com a mucama de sua mulher ocupava o lugar de filho legítimo, ainda que a bela senhora o recusasse. Ora, ela era considerada “doente” e incompetente por não poder dar-lhe filhos. Desconsiderada e humilhada, nada restava se não calar-se.

Sim, havia o caso de senhores “donos” de escravas, nisto incluía-se seu corpo como mulher – com filhos não reconhecidos e desprezados pelo pai mas amado pela mãe, porém um amor com dor profunda e sentimento de culpa, como se algo de errado tivesse feito. O início dos “filhos do erro”. O medo da mãe de amar os filhos de forma inadequada se perpetua ad eternum.

Estas histórias foram se misturando, e muitas de vocês as carregam, ainda que não saibam. Por esta razão, peço que procurem conhecer a mãe de vocês, seus medos, amores, e sua força, posto que as fraquezas ficarão por conta da aceitação e admiração por haver superado, ainda que não totalmente, mas o suficiente para que você estivesse aqui buscando a própria cura. Agradeça a ela sua fraqueza – esta pode ser a matéria prima de sua própria força.

Na “fraqueza” de sua mãe pode estar justamente o seu sucesso, pois no Universo não existe erro ou acerto, força ou fraqueza, o que existe é oportunidade nas metáforas que a Vida lhes apresenta. Talvez, tenha custado o sofrimento de suas ancestrais e a dor de sua mãe diretamente, mas exatamente por isto, e em honra a tudo isto, você pode, deve e merece quebrar este elo de dor e ser feliz. O que é ser feliz? Assumir a si mesma, em suma, ser você mesma. Assumir seus desejos e necessidades e responsabilizar-se por eles.

Mais uma vez, voltar à sua posição de filha, refazer o caminho, e como adulto perceber a trajetória de sua mãe, sem julgamentos, reverenciá-la como um ser humano que acatou um desejo do Universo de ser o veículo pelo qual você aqui está. Se não fez o que você queria ou precisava, certamente fez o que estava ao alcance dela. E por isso mesmo merece que você a olhe com gratidão de filha, veja que tudo está no lugar certo, dentro da Natureza Exata do Universo.

Como filha você apenas deve amor e gratidão, honrar seu nome e como brinde do Universo ser feliz, nada mais – somos nossas escolhas e dela vivemos, por isso o livre-arbítrio – podemos escolher a cada momento. Como mãe, você deve a si mesma a mesma coisa – honrar sua mãe e libertar-se. Assim, estará honrando a si mesma, à sua própria existência. Só o reconhecimento pelo amor e pela gratidão irão lhe libertar!

Assim, se vendo na posição de filha com suas necessidades, reconhecendo as necessidades de sua mãe, muitas portas se abrirão, pois o significado da palavra mãe mudará, se transformará através de estágios de espanto em admiração, para enfim tornar-se amor e gratidão. Desta forma, você alcançará a  maternidade de si mesma e desse casamento nascerá um novo Eu, mãe responsável pela própria vida. Qual é mesmo seu nome?

Sua mãe e seu pai lhe deram a vida, portanto ela é sua! Você deve a eles amor pela dádiva, gratidão pela benção, e a si mesmo deve assumir a responsabilidade pela sua vida. Eles lhe deram as pernas, ensinaram a andar – caminhar é por sua conta!

Você já pode retirar dos pés os calçados usados dos ancestrais, agora  já sabe como é, fique descalça, pise o solo e deixe suas pegadas no Mundo. Você pode e deve fazê-lo, seja através de um filho, de uma árvore, seu cuidado amoroso aos pássaros, cães ou gatos, quem sabe um livro, ou as palavras ditas, que uma vez ditas, reverberam pela Eternidade? – registre sua marca no mundo! Você é sua obra prima.

Nada devemos aos nossos pais se não amor, honra e gratidão, e isso é tudo! O mais, é  responsabilidade de cada um. O amor de sua mãe à você (pai também), muitas vezes não é bem traduzido. Peço considerar que a diferença de gerações e a diferença histórica pode criar um grande hiato entre as pessoas, pois basta pensar que demonstração de afeto há bem pouco tempo era o mesmo que demonstrar fraqueza; as mães protegiam seus filhos escondidas do marido, pois seria “estragar a criança“; os filhos meninos então, eram os que mais sofriam, pois poderia gerar um “maricas”… Este tempo não está longe! Na verdade, lamentavelmente sobrevive através de registros de pessoas que alimentam preconceitos, mas não julguemos – foi o que aprenderam ao longo da vida e não evoluíram.

Cabe a nós quebrar a corrente destes “aprendizados” deles e passarmos nossas experiências. A vida é exatamente isto, cada um dá o que tem. Os pais nos ensinaram e cuidaram quando crianças, hoje chegou nossa vez de ensiná-los amorosamente como anda nosso tempo, nosso mundo. Sem críticas ou julgamentos. Você é capaz? Se não for, eis a resposta! Você também nada poderia falar, pois incorreria na mesma falha. Neste caso, cabe a palavra “perdão”, mas a si mesma!

“… Mãe sagrada, mãe sangrada, mãe viva, mãe morta. Mãe eterna.”…(Marcelo Barroca)

Valéria Trigueiro e Marcelo Barroca

Óleo essencial de Benjoimo arquétipo materno, envolvendo as ancestrais – ele une as pontas, costurando nossas histórias, cicatrizando nossas feridas.

Valéria Trigueiro

Valéria Trigueiro é perfumeterapeuta com experiência na elaboração de perfumes personalizados segundo o equilíbrio dos 4 Elementos. Seu trabalho define-se como "Aromaterapia e Espiritualidade.

All author posts
Write a comment