A batata, já longe de sua terra, separada de seus familiares, estava muito triste no fundo de uma gaveta de geladeira. Ali permanecia há muito tempo.
Tinha tempo para rever sua trajetória de vida, e pode perceber muitas coisas.
Pensou que há algum tempo, mesmo antes de ser concebida, acompanhava o trabalho dos homens na lavoura abrindo sulcos na terra – falavam em medidas de profundidade, o espaço ideal entre uma batata-semente e outra.
Ouvia conversas sobre o momento certo de colhê-las, quantas pessoas seriam necessárias para ensacar as batatas escolhidas.
Esperava ansiosa pelo dia de “nascer no momento certo” e rezava para ser escolhida. Lembra sua emoção quando foi colhida e jogada – essa parte não foi lá muito legal, porque foi literalmente jogada de um lado para outro, e ela pensou que estava bêbada.
Sai da terra, nasce. É escolhida, depois vai tomar banho com várias irmãs, brincam, acham engraçado. Passa pela secagem.
Tudo isso ela agradece, pois apesar do barulho e da frieza das máquinas, muita gente está ali envolvida em mandá-las para um processo de adoção, onde poderão cumprir sua função de vida.
Passa por mais uma etapa: está agora dentro de um saco imenso onde suas irmãs falam pelos cotovelos. Todas têm curiosidade em saber para onde vão.
O saco onde estavam foi jogado com toda força dentro de um caminhão grande com cheiro, adivinhem do quê? Do perfume de suas mães e avós, pois por ali elas também passaram um dia – fizeram o mesmo caminho.
Todas gritaram na hora em que foram lançadas ali. Ela não sabe dizer se doeu mais pela dor física do impacto na caçamba do caminhão, ou se pelo jeito indelicado que foram tratadas.
Algumas não resisitiram e entraram em processo de depressão, contaminando as outras mais próximas. Beta resistiu, pois sabia que tinha algo a fazer. Ser feliz seria a aventura e o exemplo de sua Vida. Era uma promessa.
Ao ver aquela situação, Beta começou a rezar. Não podia ficar triste e adoecer. Queria cumprir sua história. Sabia-se eterna.
Depois de percorrerem quilômetros naquele caminhão, Beta rezando e focando no cheiro do perfume que lembrava suas ancestrais, conseguiu ficar firme e viu que haviam chegado a um grande galpão, onde foram desembarcadas.
Beta viu o que a esperava e botou a mão na cabeça para proteger-se. Estava certa. Mais uma vez o saco foi jogado, e agora no chão. Que dor física… que dor moral…! Não achava que merecessem ser tratadas assim.
Várias pessoas vieram e começaram a separar as irmãs batatas. “Você é bonita, vem pra cá “; “Você mais feiosinha vai pra lá.” As doentes tinham outro destino.
O destino de Beta foi ser escolhida para ir com outras para uma rede de supermercados. Mais um saco grande para servir de moradia até chegar o momento.
Quando chegaram já estava até enjoada. Ela piorava porque aquele mal estar a lembrava de um homem sem noção que tinha mania de alimentá-las quando ainda bem pequenas com um remédio “fortificante” cujo cheiro causava aquela sensação.
O caminhão passava por buracos na estrada e elas pulavam. Eram jogadas de um lado para o outro nas curvas mais acentuadas.
Ufa… enfim supermercado e mais gente separando as mais bonitas das mais feias, mais fortes das mais fracas, maiores das menores… Todo esse processo sempre foi doloroso para todas elas. Discriminação, rejeição, separação…
Ela foi escolhida como forte, bonita e útil. Ela se sentia assim porque cultivou o propósito de jamais desistir.
Nesse ponto, ela começou a prestar atenção às pessoas – umas a pegavam, olhavam e jogavam de volta à pilha de batatas irmãs. Tinha umas muito desagradáveis que além de rejeitar, ainda a julgavam – muito grande, muito pequena (ela ficava até confusa, mas era decidida – seria linda e forte, pois afinal, quem a conhecia verdadeiramente se não ela mesma? Quem eram aquelas pessoas para dizerem o que ela era?)
O dia de ser escolhida para ir para a casa de uma família chegou. Foi muito bem tratada e ficou feliz. Ela foi com algumas outras irmãs.
A jogaram em uma gaveta de uma geladeira. Que frio! Foram pegando as companheiras e ela foi ficando para trás. Começou a deprimir, se sentir solitária, rejeitada e encolheu-se, perdeu o brilho- estava ferida.
Um dia, um membro daquela família abriu a geladeira e falou que esta precisava de uma a faxina, a começar pela gaveta. Ela encolheu-se…!
Acendeu-se o sinal de alerta. Não! Começou a rezar… Ela tinha um sonho de cumprir seu destino alquímico. Soltar seus nutrientes em uma panela- ela tinha o sonho de se transformar em puré de batatas, pois estaria entre outras irmãs, seriam misturadas ao leite, manteiga, queijo… iriam conhecer outros reinos – o pessoal do reino animal.
Chegariam de mãos dadas ao Reino humano para alimentar a família que a escolheu. Depois de alimentarem as pessoas, sofreriam outro processo natural de separação, mas este sem dor, pois toda batata é preparada para este processo, por isso nem sentem dor ao serem cozidas. É de sua natureza. Virariam componentes para manutenção da vida e da saúde de humanos e se perpeturariam através deles e suas ações.
Seu sonho foi frustrado quando as irmãs foram embora e se viu sozinha. Achou que nada mais a restava. Seria o fim e ela teria se entregado a ele.
Mas quando ouviu falar na faxina da geladeira e pensou em ir parar no lixo, intensificou sua vontade de viver e suas orações.
Chegou o dia. Maria Inês, a dona da casa, abriu a geladeira, e Beta rezando… “eu quero viver… preciso ver florescer o resultado de tudo o que fui e sou. Mais do que isso, do que posso ser…” rezava com os olhinhos apertados quando Inês a pegou nas mãos carinhosamente, olhou-a e chamou seu filho pequeno para vê-la. Ambos estavam encantados com Beta. Ela era diferente. Tinha caule para todo lado com pequenas flores.
Cada caule era resultado das lágrimas que Beta verteu emocionada quando em oração pedia para cumprir não exatamente um karma, pois isso é pesado, ela sabia que poderia cumprir um propósito de vida, adaptado pelas suas intenções puras e compromisso com o que desejava. Estava viva e lutando, então tudo seria possivel.
Aconteceu. Toinho, o menino olhou para Beta e falou: “se você tem pequenas flores é porque dentro de você há a essência da flor. Você me ajuda?”
Beta ficou muito feliz, pois via que esse menino era especial- sabia lidar com sentimentos. Se ele pudesse ver o que se passava com ela internamente, a veria sorrindo.
Levou Beta para o jardim e espetou caules de rosas em seu corpinho de batata. Ela sentiu cócegas e riu.
Agora Beta mora em um belo jardim de rosas, numa casa de boas pessoas, onde bebe boa água, pois é regada todo dia, se alimenta de uma terra fértil, ouve musica clássica, pois Toinho tem certeza que ela dança quando ouve e ainda ouve o menino conversar com ela.
Ela responde, ora com seu perfume, ora lançando uma pétala aos seus pés.
Ela aprendeu a orar em gratidão por acreditar que lutar é preciso, chorar faz parte, mas desistir nunca é solução. Ela se deu a chance, e venceu… um dia depois do outro… Todos nós, como Beta podemos fazer nossos “nutrientes” tornarem-se rosa. No ser humano ele chama-se Fé, mas a gente esquece que tem.
Óleo Essencial: Mirra
Físico: cicatrizante, sistema respiratório, anti-rugas;
Emocional: une as partes contidas dentro do indivíduo. Para saber qual Caminho seguir. Ajuda o indivíduo a gostar da própria companhia
Energético/Espiritual: União corpo/espirito, cicatrizante da alma. Excelente para processos de terapia quando defrontamos com sombras difíceis de entender. Trabalha direto na aura, fazendo um curativo em nossas memórias mais remotas.
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