Entre o uso e abuso – Relação Terapeuta/clientes/amigos

 

Saber lidar com o outro humano com cautela? Querer as coisas com consciência e perceber a hora exata de parar ou de prosseguir? Mas não, nem sempre é assim em uma relação, seja fraterna ou terapêutica. Um indivíduo pode tirar muito do outro, quase tudo que este tenha para oferecer dentro de seu pote de manteiga.

Tal indivíduo quando percebe já haver besuntado seu pão, resolve devolver ao pote aquilo que restou na faca e não lhe servia  mais.

Devolve a sobra ao pote, já contaminada com o sabor do seu pão. É como se quisesse que o outro guardasse seu excedente.

Assim podemos nos sentir a cada dia que passa, quando alguém  sem ao menos desejar-lhe bom dia, vai despejando suas angústias e lamentos. Sua sensibilidade e preocupação com o outro não são suficientes para querer saber se este outro está preparado naquele momento para doar-se. Não se interessa pelo quantum de energia ele estava armazenando, tampouco para o quê.

Ele sente-se aliviado ao devolver o que não quer mais, como se ao outro coubesse lidar com suas más escolhas e sua incapacidade em administrá-las.

Não.  Não se trata de uma queixa pessoal, longe disso. Apenas estou retratando situações cotidianas, lembrando todos os “potes de manteiga” que conheço.

Todos nós, sejamos oraculistas, pais, amigos, médicos, psicólogos, terapeutas de qualquer área,  precisamos ser tratados como seres humanos que somos. Ainda que sua consulta seja de valor elevado, a maior retribuição sempre será ver seu trabalho bem feito e valorizado, humanamente valorizado.

Seres humanos que sofrem,  que têm vida própria, gente que faz bobagens, que tem seus arrependimentos, alegrias e dores de cotovelo. Cada dia mais, estamos tão atolados em nossos próprios conflitos que esquecemos que convivemos com pessoas que também têm seus conflitos e histórias pessoais.

E nossa própria manteiga? É necessário que cuidemos de nosso pote  e não o deixemos fora da geladeira a ponto de dar ranço.

Lembro a todos os candidatos a terapeutas, já que há uma proliferação de cursos de formação de terapeutas holísticos, deixo meu recado.

Não se deixe tratar como margarina. Proteja seu pote de manteiga, imponha limites, horários e lembre-se que sua função é ajudar com sua lanterna a iluminar o caminho, jamais carregar no colo aquele que o procura. Entretanto, jamais embarque nessa se não for uma necessidade da sua alma. 

Todos os assuntos deverão ser tratados em consultório, com hora marcada, com valores previamente acertados. Não podemos ser pegos no elevador, na mesa do bar, na festa, ou pelo telefone, onde não se vê se a pessoa realmente pode atender. Atenção, pois os amigos poderão não entender bem sua nova função. Cada um em seu lugar. Terapia é sagrada e tem ritual.

Devemos dosar a quantidade da manteiga que irá dar sabor ao pão, a fim de que não sobre e seu pote seja contaminado. Não corra o risco de ao não dosá-la, deixá-la derreter e escorrer ao chão. Você pode escorregar nos excessos que não são seus, mas permitiu recebê-los, talvez pelo coração mole, ou quem sabe por ser uma manteiga derretida?

A resposta será sempre NÃO!

É mais fácil passarmos nossas vidas colocando a responsabilidade de nossas escolhas em ombros alheios, em potes alheios.

Já que o período não é para decifrarmos as tendências que desenham o céu que nos protege, deveríamos então, usar nossos dias para refletirmos onde queremos chegar. Para isso, antes precisamos definir onde não queremos chegar, significando dizer – estabelecer fronteiras.

A vida tem o recheio que queremos dar. Fugimos diariamente de nossos medos, mas encaramos os receios alheios. Falamos sem pudor de aflições, mas esquecemos de ouvir a nós mesmos. Reclamamos facilmente do que não temos, mas esquecemos de valorizar o que conquistamos. Precisamos saber de nossa utilidade e função no mundo.

Sabe como se faz manteiga? Exatamente! Para se obter um bom resultado, precisamos bater muito, mexer muito até que ela tome a leveza e a consistência perfeitas.

E assim é com todos nós, para obtermos experiência, precisamos passar por muito atrito, nos mexermos no mundo à exaustão até que possamos nos transformar naquele indivíduo que sabe que seja pão, bolo, massa ou até mesmo um belíssimo queijo… há trabalho e este deve ser valorizado, pois esta é sua manteiga artesanal, resultado de seu melhor produto armazenado, fruto de dedicação pessoal.

Não aceitar ser tratado como margarina feita em laboratório é o primeiro passo para poder ajudar aquele que precisa e sabe que para chegar ao ponto perfeito, você teve muito trabalho  como ser humano que é.

Boa semana!!!

Óleo Essencial da SemanaOsmanthus – para parar de desejar o que os outros têm e analisar nossas profundas e reais necessidades.

Marcelo Barroca

Marcelo Barroca Assertividade. Intuição. Humanidade. Assim se caracteriza seu trabalho como Oraculista. Tradução de símbolos arquetípicos com a marca de quem ama e respeita o que faz.

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