Ainda que deitada em posição eterna, o corpo já aparentava frio desde sempre. Frio em emoções, em gestos e carinho. Frio em olhar e compreensão. Eu mal a conhecia.
Ainda pequena, lembro-me de ter me perdido nas ruas do Centro da Cidade e procurar em lágrimas de desespero pelo rosto duro de minha mãe. Ao mesmo tempo que me vinham pensamentos de nunca mais a ver, meu corpo gelava em pavor de receber alguma repreensão por ter me perdido. Ela foi clara ao dizer que era para eu esperar na porta da loja, mas estava demorando muito, ou assim eu percebia, por ser tão pequena.
Depois de muito choro e horas em pensamento que não devem ter alcançado nem ¼ da volta do ponteiro maior do relógio, lembro-me de piscar até encontrar o foco e entender o que o homem me perguntava: “É aquela ali?” Sim! Era ela. Como sempre elegante e sem perder o controle emocional. Ainda com os olhos conferindo o troco da compra, já me fitava com a frase que estava por vir: “Como posso confiar em você, se nem sabe se comportar como uma mocinha de 8 anos? É esse tipo de mulher que quer ser?”
E ao longo das próximas quatro décadas, ouvia em cada centímetro que cresci, o questionamento se era assim que gostaria de me tornar. O que me fez indagar uma vida inteira: será que nunca soube quem eu gostaria de ser ou será que nunca me tornei a pedra firme que ela gostaria que eu fosse?
Crescendo, aprendendo e sobrevivendo, fiz dentro do possível as minhas escolhas. Namorei, fiz uma faculdade, comecei a trabalhar, me casei e tive minha própria filha, na qual até o nome usei para homenageá-la.
Mas parecia que quanto mais eu fazia, menos ela se importava. Abdiquei de muitas das minhas escolhas para me tornar aos poucos um pedido de atenção e orgulho.
Meu marido nada suportou e a primeira palavra que minha filha aprendeu, foi adeus. Talvez tenha sido esse o motivo de também crescer em seu mundo fechado e muito particular. Tampouco era minha amiga conselheira, sabia sim, me recriminar, me julgar e me olhar com prepotência.
Aos poucos, me senti sozinha, fui aprendendo a famosa frase de que só podemos contar com nós mesmos. E mesmo não concordando plenamente, pois sempre quis ter alguém, consegui levar meus dias de luta.
Sim! E lá estava ela, deitada em sua última morada. Fria como sempre. O corpo já castigado pela luta e entrega ao câncer de mama. Sem cabelos, sem cor, sem emoção… apenas um corpo que eu mal conhecia, muito menos, reconhecia como meu.
Desencarnei aos meus 49 anos de vida. Vida? Foi a única coisa que nunca tive. E para a minha surpresa, ainda estava eu ali, sem querer abandonar a minha própria imagem na matéria. Era feia, fria e triste, mas ainda devia ter algo que eu pudesse olhar e reconhecer como meu.
Os dias foram passando, a matéria começou a desintegrar e eu sem nenhuma perspectiva. Já não era lembrada por ninguém ou assim acreditava ser.
Foi quando percebi que já fazia algum tempo que eu não estava só. Todos os dias, uma senhora se aproximava e nada me falava, apenas estendia amor com o olhar. E eu, ainda tão presa em meus sofrimentos, fazia questão de desviar o olhar e nada receber. Foi nesse momento, que ela se dirigiu pela primeira vez em palavra e me questionou se iria aceitar o amor, ou se me eternizaria na dor.
Ao me retirar dali, conheci a forma mais linda de amor pleno da presença divina em cura. Aquela que vinha me acompanhando era mãe de minha mãe. Minha querida avó, que nunca tinha ouvido sequer falar e nem me recordava o nome.
– Querida neta, estou aqui além de tudo, por pedido de sua mãe, que desde bem antes de seu desencarne, vem me pedindo para que lhe receba em meus braços como não pude fazer por ela. Pois, ao nascer, tive que escolher partir e deixar parte de mim, viva. Sua mãe cresceu sem referência desse amor na matéria. Assim, cresceu sem demonstrar carinho, pois ainda estava presa na dor da criança. Sucessivamente foi assim com você e com sua filha. Todas presas ainda, na dor de meu desencarne.
– Sua filha, minha bisneta, não estava se afastando de seu amor, estava apenas tentando se proteger da dor que vinha na sua ausência. E todas as tardes, trancada em seu quarto, ela apenas estava culpando a Deus por tamanho sofrimento que você havia escolhido passar.
– Agora nada mais é necessário além de muito amor. O sofrimento é um sacrifício que escolhemos fazer na tentativa de aliviar a dor do outro, mas que acaba causando mais sofrimento. E quem escolhe viver em luz, aprende a lidar com os destinos e não mais provocar expiação.
Nada mais precisava ser dito. Agora, mesmo que distante, havia encontrado meu sentido de existência em matéria e espírito. Poderia sair dessas amarras que enigmaticamente nos colocamos e viver em paz. Eu era a paz e amor, assim como todos de minha família.
Morrer não é a solução, quando não encontramos em algum lugar de nossa existência a compreensão. Ela está dentro de nós e se chama Vida. A solução tem seu nome.
Óleo Essencial – Benjoim (Styrax benzoin)
Encontrado em forma de Absoluto.
Físico – contra tosse, expectorante; digestivo, adstringente, cicatrizante da pele, contra psoríase;
Emocional – tem efeito acolhedor, contra sensação de solidão, trabalha a dualidade – reconcilia o indivíduo consigo mesmo; para casos de indecisão, insegurança, tem efeito relaxante ;
Energético/Espiritual – tem energia morna, acolhedora, liberta miasmas antigos, ajudando a cicatrizar as feridas da alma; prosperidade, alegria. Depois de rituais de limpeza, após o indivíduo haver permanecido um tempo com perturbações espirituais, o benjoim age como um selante, um curativo.
Nota: Junto com a lavanda, consideramos o óleo das polaridades. O preferido para o sentimento de acolhimento de bebês e idosos.
Marcelo Barroca – Constelador Familiar – Atendimentos online com hora marcada
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