Indisponibilidade afetiva – um tártaro coletivo que pode ser tratado

Temos visto no nosso cotidiano, seja em consultas, seja nas redes sociais, na arte, na TV ou mesmo na mesa de bar, pessoas “afetivamente indisponíveis.” Entretanto, acredito ser importante esclarecer o que vem a ser isto, pois pode ser confundido com “pessoas comprometidas”, e não é. Trata-se exatamente do contrário.

Quando eu era criança costumava ouvir minha avó usar a expressão: “fulano tem coração de pedra”. Hoje em dia vejo com clareza exatamente o que isto vem a ser. Diga-se, com clareza e tristeza, pois coração de pedra é algo muito ruim, principalmente quando se torna tão comum, que para onde olhamos, vemos uma pessoa que sofre do problema ou sofre com o problema, ou seja, suas vítimas.

A humanidade criou o que na Alquimia chamamos de tártaro, ou seja, uma repetição de padrões a tal ponto que oxida, cristaliza e adoece. Quando detectamos um tártaro no corpo físico, este certamente poderá ser resultado de um padrão repetitivo, uma teimosia, mania, ou poderia dizer um TOC, mas este já é um exemplo de tártaro em si.

No corpo físico, eles  se manifestam,  como pressão arterial alta, constipações intestinais, sinusites, depressão, pedra nos rins e na vesícula, dentre outras. Estes exemplos mostram bem o ponto onde quero chegar. Empedramento.

Quando falamos de um tártaro comportamental ao ponto de calcificar no corpo físico, é porque já criamos um tártaro bem grande no nosso sistema emocional, manifestou-se no temperamento e chegou ao físico. Sinal de alerta! Piiii … piiiii…. pi……!

Algo que tem me preocupado bastante é notar que as pessoas não mais se disponibilizam afetivamente. Não é que sejam incapazes de sentir amor, não é isso.

Sim, elas se relacionam entre si, mas a intolerância com aquilo que não agrada é grande; as brigas e separações por motivos mais práticos do que afetivos são uma norma; a indisponibilidade de ouvir o outro e vários outros sintomas são notáveis.

Acredito até que o hábito de repetirmos exaustivamente o “eu te amo” para pessoas que pouco conhecemos, ou “eu amo bife com batata frita”, “amo essa música”; “amei aquele filme!” Como “amamos” coisas hoje em dia…!

E por outro lado, a carência afetiva de todos nós, faz com que nos sensibilizemos com esse “eu te amo” lido nas timelines da vida,  ouvido dos amigos, conhecidos e até de desconhecidos. Quantos “meu amor”,  quantos “eu te amo” você ouviu ou leu por aqui hoje? E quantas destas pessoas você realmente conhece, ou melhor, você sabe que te ama de verdade?

Isto é um movimento compensatório. Estamos dizendo “eu te amo” para nos convencermos de nossos afetos e da necessidade deles.

Na verdade, muitas pessoas não disponibilizam seus afetos de verdade para o outro. Podem estar comprometidas em um relacionamento sim, mas afetivamente é diferente. Quantos relacionamentos hoje em dia são um tártaro? Um hábito difícil de  curar, alias, um vício seria melhor dizer, já que o motivo de se estar junto de alguém muitas vezes é o vício que temos naquele tipo de relação. E estar viciado em uma relação ou em alguém é pior do que alcoolismo ou tabagismo. Tártaros!

Poderíamos aqui listar alguns como exemplo:

  • Maria vive com JoaquimCasal na faixa etária de 45/48 anos. Ela costuma reclamar que ele sai muito de casa (para sua sorte e defesa), e então chega a um ponto em que ele se convence, pelo menos disfarça e fica em casa um tempo. Ela propõe verem um filme juntos comendo pipoca. Ela gosta de filme de terror, mas ele quer ver uma comédia. Ele concede, morre de medo, mas “vá lá que seja… afinal, não custa fazer a vontade…” Ela quer comer pipoca salgada de micro ondas, mas ele quer aquela pipoca que vende na casa de produtos naturais… Ele tenta se convencer, “poxa… vai alegrar minha namorada, anda tristinha… ela é tão legal…, pensa. Esse exemplo simples se repete nas decisões mais sérias do casal, como por exemplo, sobre o fato de venderem os imóveis que têm em sociedade, fecharem duas lojas e mudarem de país. Ele não quer, afinal tem mãe idosa, família numerosa e unida. Ela não. Mais uma vez, ela se apresenta forte e decidida com todas as decisões de ordem prática dependendo apenas de ele dizer “ Vamos!” Ele diz não querer fazer isto, argumenta e ela chantageia, deprime, chora, não sai para trabalhar, deixa de falar com ele, volta para a casa dos pais, termina o namoro, até que ele está prestes a dizer mais uma vez: “Pobrezinha, frustrei os sonhos de minha namorada, ela está deprimida, afinal, não custa…”

Pára! Custa sim e muito! Ele deixa a responsabilidade afetiva e da própria vida toda nas mãos dela e ela assume. Sabe por que? Repete um modelo antigo, deixando na mão do outro algo que pertence a duas pessoas. Joaquim tem um trabalho burocrático e mecânico, no qual mergulha oito horas por dia, e quando chega em casa, não consegue se despir do personagem social que desempenha. Emocionalmente acredita não ser capaz de produzir algo criativo que seja relevante e tenha prazer em executá-lo.

Ao mesmo tempo, sente necessidade de ter a “casa modelo”, pois tem o hábito da organização, e acredita que sem ele as coisas não se organizariam. Joaquim repete o padrão paterno. Sua mãe é exatamente igual à Maria e seu pai ainda faz tudo o que a mãe quer. O casal vive o velho ditado repetido em uma música do início dos anos 1980 do Erasmo Carlos, que dizia entre outras barbaridades: “antes mal acompanhada do que só”.

Vivem um relacionamento passivo/agressivo. Ele sofre de distúrbios intestinais, sai de prisões de ventre dolorosas a processos diarreicos incontroláveis. É, na maioria das vezes rude com as pessoas, mas com Maria, seu comportamento é controlado, tratando-a por apelidos carinhosos e muitos “meu amor” pra cá, “meu amor” pra lá. Vive uma vida quase robótica, tudo mecânico, não tem amigos. Tártaro afetivo/social da pior espécie.

Resultado: Após exatos 9 meses contínuos com o uso dos óleos essenciais adequados, mantras pessoais, florais, alimentação para o equilíbrio dos elementos e uma série de exercícios para equilibrar as emoções e outras pequenas providências, os dois conseguiram transmutar suas essências e hoje encontraram o equilíbrio. Joaquim está trabalhando por conta própria, saúde quase perfeita, está em um novo relacionamento no qual é ouvido e sua opinião e vontade são consideradas.

E Maria? Após ver os resultados em Joaquim, passou a se tratar e hoje está melhor, mas ainda em processo de busca. Na verdade, ela “sofre de indisponibilidade afetiva”. A partir do momento em que ele tomou seu poder pessoal de volta, ela percebeu sua fragilidade emocional e hoje está cuidando de conhecer-se melhorE ele? O que acham? Também! Insistiu num relacionamento já conhecido para não ter que lidar com o novo, olhar para si mesmo.

  • Juarez – sofreu decepções, abandonos, viu suas expectativas amorosas frustradas, perdeu o emprego com o consequente afastamento dos colegas de trabalho que considerava amigos, criou traumas, cristalizou sentimentos e consequentemente, o afeto não fluía. Sim, além do sofrimento pessoal, gerou efeitos indesejados na vida de sua parceira. DesdobramentoEla conseguiu se relacionar, ainda que de forma defensiva. Teve dificuldade em perceber, permaneceu com ele dando murro em ponta de faca, se questionando o que estaria errado com ela.Tentou “salvá-lo” de si mesmo,  compensando-o com mais afeto, atenção e mimos. Forçados, diga-se, inconscientemente, mas forçados. Isso só agravou a situação. Ela fez durante muito tempo o movimento de aproximar-se e afastar-se, já que tinha muito  medo de ser ferida física e emocionalmente. Um perigoso jogo de azar. Ambos perderam suas apostas! Quem venceu? O tártaro, pelo menos por um longo tempo. Resultado: agressividade e alcoolismo no caso dele, e em sua parceira gerou síndrome de pânico.

Atualmente: Faz terapia com uma excelente psicóloga indicada por nós, frequenta os Alcoólicos Anônimos e ela conseguiu sair da síndrome de pânico e do relacionamento doentio. Ela continua se cuidando.

É claro que ao final das contas, na maioria das vezes podemos verificar que não se tratavam de corações de pedras, como dizia a minha avó, e sim, de corações feridos. Portanto, há remédio.

 Bem, é claro que os casos aqui citados foram dramatizados, os nomes dos clientes são fictícios, mas a essência dos fatos aqui narrados é real, bem como seus resultados.

Valéria Trigueiro

Valéria Trigueiro é perfumeterapeuta com experiência na elaboração de perfumes personalizados segundo o equilíbrio dos 4 Elementos. Seu trabalho define-se como "Aromaterapia e Espiritualidade.

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