Maria Farinha como era conhecida, vivia escondida e isolada.
Fazia sua morada em um buraco acolhedor, mas não hesitava em mudar a cada nova direção do vento.
Quem disse que Maria Farinha não era aventureira? Sabia como ninguém o horário certo de suas corridas, mesmo quando algum perigo a sobrevoava.
Banhava-se em sal grosso ao menos uma vez por dia, como forma de proteção e limpeza. Enfeitava-se de conchinhas quando exposta sua beleza. Perfumava-se de olíbano para descobrir sua grandeza.
Maria Farinha era toda envergonhada. Conhecia o canto, mas não cantava. Conhecia o rito, mas não ritualizava. Conhecia o medo, mas não se amedrontava. Conhecia a dança e só dançava. Dançava, dançava e dançava.
Uma vez, Maria farinha foi questionada por uma tartaruga recém eclodida: Qual o mistério da vida? De onde viemos e para onde vamos? E por instinto, respondeu: A vida não é um mistério, a forma que a levamos que é. Viemos de dentro e estamos sempre caminhando para fora.
E assim, ela ensinou, que enquanto uns buscam oceanos de oportunidades, outros como ela, se contentam apenas com castelos de areia.
Maria Farinha já teve um amor, mas que a maré cheia com ela levou.
Maria Farinha era a mais bela, talvez única ou exclusiva. Era a soberana de seu reino, a amorosa e gentil, mas ainda preferia apenas sua companhia. Não por autopreservação, mas sim, por opção.
Seu buraco não era solitário. Mas profundo -havia tatuís, vôngoles, bolachas de praia e caranguejos. Ao lado de seu buraco, havia outras “Farinhas”. Mas dentro dela já existia a plenitude.
Marias, Jorges, Reginas e Claudios Farinha. Nomes que de buraco em buraco, estão realizando seu destino.
Pois a vida não é frágil – podemos passar por ela de forma delicada.
Nem sempre a caminhada tem que estar repleta de companheiros para significar vida. Mas sempre na vida, mesmo que só, tem que haver plenitude.
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