1. É necessário sofrer? 2. Mitologia – um deus excluído.

Tentando entender a vida através da Mitologia

  • um arquétipo masculino

Mitologia - Hades - WikipediaTemos vivido tempos difíceis. Recebemos inúmeras explicações, que partem da ciência, passam pela religião, fazem um pit stop nas crenças culturais, se hospedam na filosofia para enfim chegarem à mitologia… Eu disse enfim? Nada disso! É um ciclo, e respostas não existem em uma só vertente – elas passam por todas. Cabe a nós escolhermos a linguagem que mais nos afinamos.

Um amigo me pediu que falasse sobre o arquétipo do homem tipo Hades, senhor de um reino do mesmo nome – é… aquele mesmo que as pessoas confundem com o inferno descrito pela Igreja. Já adianto que você pode continuar lendo sem medo, já que nada tem  a ver com esse assunto.

Hades era filho de Cronos (Urano) e Réia (Gaia)   – Céu e Terra -, um dos filhos que foi engolido pelo pai e mais tarde junto com os irmãos, o enganaram, fazendo-o regurgitar as crianças de volta.  Ele, Zeus (Júpiter) e Poseidon (Netuno). Uma vez a batalha vencida, os três resolveram dividir o mundo em três partes – Zeus ficou com o Monte Olimpo, Poseidon com os mares e a Hades coube o mundo subterrâneo.

Entretanto, esse mundo apesar da confusão que se faz, não é o Mal, como a princípio pode parecer. Seria para lá que os mortos iriam para beber o líquido mágico no Rio Letes – “a água do esquecimento”a fim de esquecerem-se de suas histórias de vidas passadas e assim, poderem nascer de novo. Seriam novas pessoas, podendo viver  erros e acertos diferentes, sem lembranças dos registros anteriores para atrapalhar a nova jornada. Aqui já podemos supor a existência da sobrevivência da Alma.

Ainda referindo-me ao Hades como lugar, não há como não o entendermos como a “descida ao fundo do poço”, “a noite escura da alma”, solidão,  habitat das sombras, frio, afastamento da realidade. Aqui já vemos se delinear diante de nós  a suposição de loucura ou depressão.

Transformações – reviravoltas – Mitologia – deus Hades

  • Temperamento

Seu temperamento, claro, era condizente com o local – conhecido como “O Invisível”; “O Recluso”. O mundo das sombras, aquilo que não pode ser visto, revelado ou alvo de julgamentos por parte de terceiros é com ele. Inclusive em qualquer  área da vida, emocional, comportamental ou atitudes não aceitas, na maior parte das vezes, por nós mesmos.

O assunto dele é a morte, mas como estamos falando de arquétipos, utilizarei a palavra que creio mais adequada:   transformação. Quando alguém está com muito medo – aquele que paralisa e não deixa a pessoa vir à janela ver a luz; quando se está seriamente doente temendo a morte; ou mesmo diante da  perda de um emprego, de um relacionamento, ou seja, qualquer espécie de luto, é Hades que está ali para garantir a sua transformação. Nesse momento descemos aos seus domínios.

Ultimamente ele está muito presente não apenas em nosso País, mas no Mundo – pandemia, devastações provocadas pela própria Natureza reagindo às más ações dos homens, a área política e de gestão também não passam ilesas, sabemos disso. Estamos falando de Leis da Natureza – ação e reação – nunca de castigo como se sugere nas religiões, que nos leva a pensar no tal do inferno.

Podemos estabelecer diferenças aqui: religião – castigo – inferno =  zero aprendizado, soa como um “Deus mau e vingativo. Mitologia – movimento que leva a oportunidades de transformação – Hades = aprendizado de zero a mil dependendo do indivíduo e sua disposição soa como Deus, deuses, Natureza procurando o seu eixo de equilíbrio.

 Hades -o  deus se apaixona

  As pessoas costumam achar que ele é o “deus da morte”, e isso não é verdade, pois ele atua no pós morte. Importante notar aqui que ele usava “o chapéu da invisibilidade” – chapéu é algo que se tira e se põe, não é isso? Registremos essa ideia. O lance dele, o deus, era viver em seu reino não saindo dali para nada – saiu por  duas vezes, conforme consta – uma vez para raptar Perséfone por quem se apaixonou desesperadamente, e a palavra aqui é literal, desespero e obsessão, tanto assim que raciocínio não passou nem perto – ela estava lá nos jardins toda linda, virginal, colhendo flores com suas amigas, quando algo lhe chamou a atenção – um narciso de mil pétalas – uma flor de rara beleza -, portanto se afastou com o intuito de colhê-lo.

O Rapto da Luz do Feminino – uma necessidade de Hades?

Perséfone, toda feliz, esticou a mão e… prepare-se: cena de terror: … tcharan…! Sai de dentro de uma fenda que abriu-se na terra, o próprio Hades em sua carruagem puxada por seus negros cavalos. Ele a puxa pelos cabelos (começando por aí a arrancar-lhe os sonhos e fantasias de menina), e a coloca na carruagem rumo ao seu reino.

Claro que ela tentou reagir, gritou por seu pai, Zeus (irmão de Hades, portanto ela estava sendo raptada por seu tio – lamentavelmente isso não é coisa só de mitologia). Pensa que seu pai fez alguma coisa? Não! Não fez, Sabe por quê? Porque era da mesma laia e estava de comum acordo com o irmão – dois tremendos… bem..,. adjetivos para descrevê-los não faltam, mas não fica bem registrar por escrito aqui.

Assim, os cavalos mergulham terra adentro, fecha-se a fenda na terra e ela, Hades, carruagem e cavalos desaparecem – estão já em outro mundo -. Ela entra em depressão profunda e fica lá ao lado dele, desvitalizada, triste e sem esperanças.

Deméter entra em cena – Isso não pode e não vai ficar assim!

A mãe de Perséfone, Deméter (Ceres), não era nada mais nada menos do que a Deusa da Agricultura. Volto a falar não em castigo ou vingança, mas em ação e reação – respostas da Natureza. Deméter enlouqueceu com seu ódio, cólera e agiu quando atingiu o estágio de fúria. Exagerei? Não.

É para ficar claro o tamanho de seu sofrimento. No estágio da cólera, pode ocorrer de a pessoa adoecer, por isso a fúria precisa predominar a fim de que algo seja feito.

Chega-se ao  ponto do insuportável, e é exatamente aí que se dá a virada – e foi  isto que aconteceu. Ela retirou-se para seu templo e o que era semente, secou. Não houve mais fruto que nascesse, nem crianças, nem coisa alguma que sugerisse Vida, nada que pudesse ser colhido. A terra secou e a fome se estabeleceu.

Zeus teve que se render aos apelos de Deméter. Ela vinha insistindo,  pedindo, e nada ocorria, até que ela viu que precisava radicalizar – a Deusa Deméter é a força da Natureza relativa à Agricultura, e a Natureza quando não atendida, procura equilibrar-se com seus meios. Uma vez cansada de pedir e não ser atendida – sabemos a razão, Zeus estava de conchavo com Hades – ela mesma buscou a solução, fazendo secar a terra. Exatamente assim como ela se sentia, sem vida com a falta da filha.

Assim, Zeus sentindo a fúria e suas consequências, chamou o Deus da Conciliação, o Negociador, aquele mensageiro que tem trânsito em qualquer lugar do Universo. Além disso, ele tem asinhas nos pés e era encarregado de levar as almas das pessoas até o Rio Estige, que fazia a junção entre o reino do vivos e dos mortos. Claro que estamos falando de Hermes. (Mercúrio)

Quando ele chega ao Hades e Perséfone o vê, cria vida nova, pois sabia que ele estava ali para resgatá-la. Hades lança uma última estratégia: dá à ela um fruto de romã, o qual ela saboreia ali mesmo – conta-se que comeu apenas seis sementes -. Com esta atitude, sem saber, estabelece-se um vínculo eterno com Hades,  selando seu casamento – a romã como fruto de abundância, de eternidade e de comunhão conjugal.

Ela volta para a companhia de sua mãe no Olimpo, porém só passando seis meses lá, época na qual tudo floresce, há abundância de flores, frutos, cores, tudo corre perfeitamente em luz e beleza. Os outros seis meses do ano, ela assume seu lugar como senhora e rainha do Hades, ao lado do agora, seu marido.

Ela ao viver no Hades aprofunda, adquire sabedoria e a traz à luz nos meses da Primavera, voltando ao Hades no inverno. A Natureza vive seu ciclo dual, de renovação, numa eterna troca entre reinos, que ainda que não nos seja tão claro, são complementares.

Hades  – a Mitologia do inconsciente pessoal e coletivo

O ambiente desse deus é o submundo onde habitam as sombras e não apenas elas, bem como  aspectos secretos e não aceitos por nós. Além disso, segredos familiares, traumas intrauterinos, até os ruídos do cotidiano que não registramos conscientemente, subjazem no Hades.

Entretanto, basta pensarmos um mínimo, para lembrarmos que só pode existir sombra se houver luz. Assim sendo,  a origem de traumas, as respostas que precisamos, a luz de nosso lado criativo – as cores que Perséfone levou de volta com ela ao Olimpo, alí também estão – o Hades tem dois lados – a sombra e a luz – a dor e o alívio, a doença e sua cura, a dúvida e a resposta. Se acaso vier a morte em pessoa, ele mesmo se encarrega de providenciar as grandes transformações que ocorrerão, não à toa a “água do esquecimento”, como preparação para a transição para o Novo.

Quando Hades rapta Perséfone, ele busca sua inocência, sua luz, suas cores e possíveis sementes, pois a função dele é não só acolher, mas também curar as sombras, tanto assim que ele é também conhecido como “o Bom Conselheiro”, pois lida diretamente com o subjetivo, o não revelado, mas que nem por isso deixa de existir. Basta atentar para suas reações viscerais e respeitá-las – os instintos são muito poderosos, sabemos disso.

O homem considerado como tendo o aspecto Hades ativado mais do que os outros, capta no próprio arrepio, percebe no olhar do outro, no cheiro do ambiente, as respostas que precisa. Ele é a profundeza, por isso consegue captar as respostas mais escondidas com precisão cirúrgica.

O problema dele é que não se expressa, e quem consegue ter acesso a ele, precisa ter jeito, intuição, estratégia (e muita paciência)  para conquistar sua confiança e traduzir suas respostas e seus desejos trazendo à luz algo que o mundo necessita, que seja – consciência de que somos humanos, pois se houve errado é porque o certo existe; se existe a dor é porque o conforto físico existe.

Esta dualidade que gerou Hades e seus irmãos, a partir de Cronos e Réia (Céu e Terra), é dualidade apenas aos nossos olhos físicos, pois “Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia”, como afirmado por Shakespeare, através de Hamlet.

Os caminhos entre os dois mundos, Céu e Terra – Monte Olimpo e Hades, tanto uns quanto outros, contêm infinitas possibilidades, onde não mais apenas a dualidade habita.

A Alma como solução – Integrando aspectos – Não mais um excluído.

Hades como homem, precisa estar em seu reino, ao afastar-se dali, providencia seu “chapéu da invisibilidade” – ele se sente forte e seguro com seus assuntos e seu mundo. A ele não interessa o mundo de fora, mas através de sua Perséfone, seja ela sua mulher, sua amiga, ou mesmo a Ânima (alma feminina do homem, que pode, inclusive ser projetada em outro homem em alguns casos), ele aos poucos se abre, mostrando a riqueza de seu mundo, seus sentimentos e emoções.

Desta forma, há um encontro de si mesmo, o que o possibilidade sentir-se chancelado (no caso do homem comum) e pode enfim buscar uma cura pessoal, transformando-se, o que no caso, significa equilibrar sua introversão e recolhimento, sair ainda que com o seu chapéu da invisibilidade e chamar Hermes para seu convívio.

A chegada de Hermes – o guia das almas

  • Comunicação entre o inconsciente e o consciente – Cura 

Hermes tem transito livre entre os mundos. Ele é muito rápido – pensa rápido, age rápido e suas palavras são mais do que inspiradas – a comunicação é “seu reino”. Quando o homem Hades consegue ativar seu lado Hermes, ele consegue não apenas utilizar os instintos, como até então – ele passa a ter insights, a intuição vem clara via imagens, sonhos e a partir desse ponto, ele passa a se expressar – é um momento de cura.

Aqueles sonhos, pesadelos, arrepios, sensações físicas que o homem Hades sentia, agora com Hermes integrado, podem ser organizados de forma a trazer à luz ideias factíveis, criação de literatura que possa ajudar a terceiros – ele é o Bom Conselheiro, lembra?

Inclusive, em um estágio ainda introvertido, porém menos do que o Hades escritor, tornar-se um artista plástico moldando esculturas, pintando quadros. Desta forma ele mantém-se em seu mundo, mas com a auto-expressão cura-se. O próximo passo é organizar uma vernissage – de si mesmo. Sua doação ao Mundo com seus saberes.

Assumir a organização, o foco em algo, atenção direcionada. Ele cura – Ele é Plutão, que corta e cicatriza, que tira o que você quer para dar o que você precisa. Requer trabalho, mas é possível. Você precisa, o mundo precisa. O “excluído” se integra, torna-se inteiro através do autoconhecimento, trabalho e compromisso com aquilo que acolheu através da Ânima.

Óleo essencial arquétipo Hades – Cipreste

Óleo essencial arquétipo Hermes – erva-doce

Nota: Para trabalhar integração dos arquétipos com óleos essenciais, fitoterapia em parceria com as Constelações Sistêmicas contato: via Whatsapp – Constelações Sistêmicas com Marcelo Barroca

Foto 1Hades Outras fotos- Pixabay

Valéria Trigueiro

Valéria Trigueiro é perfumeterapeuta com experiência na elaboração de perfumes personalizados segundo o equilíbrio dos 4 Elementos. Seu trabalho define-se como "Aromaterapia e Espiritualidade.

All author posts
Write a comment