Uma estudante morava a 3 km de distância do centro urbano onde se localizava sua universidade. Não tinha carro ou bicicleta, e a única hipótese viável para facilitar-lhe a vida foi descartada devido a um trauma adquirido logo no primeiro dia de aula.
Estava muito feliz por estar quebrando um antigo padrão familiar, onde as mulheres camponesas eram donas de casa e apenas conhecidas pelo triste nome de “a esposa do Senhor “X”; ou “a dona da casa amarela”; “a mãe do Zequinha” e coisas do tipo, na maior parte das vezes as pessoas nem sabiam mesmo os verdadeiros nomes dessas mulheres.
Claro, ser “a mãe de fulano”; a “dona da casa seja lá de que cor” ou mesmo “a esposa do Sr. Beltrano, não desabona ninguém, não é demérito, em absoluto, podendo, por muitas vezes ser um privilégio e uma honra, ser conhecida como a “filha do melhor jardineiro do lugar – um homem bom, que mais do que falar com as plantas, as ouvia, as entendendo com perfeição. Se houvesse uma praga, uma doença ou qualquer ameaça às árvores, ele era chamado e a solução garantida. Era este o caso da estudante.
Ela tinha orgulho de ser filha do Senhor Antonio e de Dona Isabel, mas desejava com todas as forças ser conhecida pelo seu nome verdadeiro e por quem ela supunha ser. Decidiu ser a primeira camponesa universitária, não só da família, bem como de toda a região.
No primeiro dia de aulas, ela se vestiu com aprumo, montou em um cavalo da família, já meio velhinho, e foi toda satisfeita para o que acreditava ser o dia mais feliz de sua vida.
Para ser feliz basta um dia, uma palavra, uma ação. Lamentavelmente o contrário também é verdadeiro. Ela estava vivendo um dia desses. Poderia ter adquirido um trauma para a vida toda ali naquele dia. Verdade que chegou a acontecer, mas as raízes as quais pertencemos nos alimentam a alma, assim como as raízes das plantas alimentam a árvore inteira.
Ela apeou de seu cavalo na universidade federal, para a qual estudou para as provas de seleção com afinco, entrando por seus próprios méritos e esforços. Estudou sozinha e com poucos recursos. Estacionou seu cavalo deixando-o amarrado no pátio, à sombra de uma árvore com uma corda bastante comprida para deixá-lo à vontade.
Tudo ia muito bem até que ouviu um barulho grande vindo dos corredores, vozes agitadas, risos debochados. Pode perceber que algo estava errado, quando viu um dos supervisores entrar na sala perguntando com voz de poucos amigos, de quem era “aquele velho pangaré” amarrado por uma corda no pátio.
Apesar de ter achado o tom de voz do supervisor estranho, não teve noção do que aquela pergunta significava. Assim, levantou-se quase orgulhosa e bastante inocente apresentando-se: “É meu. É o Senhor Tapioca. Algum problema com ele?” – perguntou preocupada.
Estava feito o estrago. Era uma grande universidade, recém inaugurada que recebia estudantes de todo o país, pois era referência em Agricultura Familiar Sustentável. A maioria das pessoas ali estava interessada em abrir ONGs, ensinar, dar consultoria, elas viam nisso “a profissão lucrativa do futuro”, tendo poucas como ela, que queria aprender para uso próprio e para melhorar a região onde morava.
Foi uma gargalhada geral por parte da turma. Uma moça que vai para a universidade a cavalo, um pangaré e ainda por cima o chama de Tapioca?
Ela não conseguiu entender o que estava acontecendo. Seria dela que riam? Qual era a graça? Até que sua dúvida transformou-se em dor quando ouviu os comentários que se seguiram.
Os jovens que ali estavam vinham todos de grandes capitais, moravam em bons imóveis alugados em parceria com seus colegas, todos tinham carro estacionado no campus da universidade e ao final das aulas às sextas feiras se reuniam nos bares da pequena cidade para – eu diria socializarem, mas a verdade é que se reuniam mesmo para falar frivolidades. Reclamavam dos professores, riam da precariedade de recursos da cidade e de seus habitantes. E nossa amiga era justamente uma bela representante da cidade e suas peculiaridades. Transformaram-na em símbolo de tudo o que riam. Não davam-se conta do contrassenso que era estarem estudando naquele local e pretendiam se especializar em assuntos da Natureza.
Diante do ocorrido, a camponesa nem ficou para o final da aula. Pegou seu cavalo e foi cavalgando devagar até sua casa, chorava muito e o vento em sentido contrário trazia poeira aos seus olhos e cabelos, dando-lhe uma sensação de mais peso ainda.
Chegou e foi direto para o quintal onde tinha uma árvore com a qual conversava a exemplo de seu pai. Desde criança, sempre que precisava de apoio, ela corria para uma determinada árvore e ali ficava até adormecer. Tinha sonhos maravilhosos e atribuía à árvore poderes mágicos. Dizia que era a sua árvore mágica.
Sentia-se ferida, como se as palavras dos colegas de classe fossem agulhas em seu corpo inteiro. Estava toda dolorida. Antes de sentar-se, caminhou até o rio que corria atrás do quintal e lavou as mãos, molhou os cabelos, lavou o rosto, mas ânimo não tinha para mergulhar. Estava muito cansada.
Recostou-se na árvore, cruzou as pernas em posição de meditação, e colocou as mãos juntas sobre o colo, como se esperasse receber algo. Fazia isso de forma inconsciente, nunca tendo aprendido a meditar, tido aulas de yoga ou o que quer que fosse.
Adormeceu e quando acordou tinha em suas mãos exatas seis flores de um azul intenso, quase roxo. A árvore era o jacarandá.
Tentou lembrar o sonho, já que era quase matemático que acontecesse, mas de nada lembrou. Apenas as seis flores em forma de cálice nas mãos. Nem saber o que deveria fazer com elas sabia, e não queria perguntar ao pai, que tudo sabia sobre a Natureza. Homem de alma sensível.
Passaram-se quase dez dias e ela não voltou à universidade, alegando aos pais que as aulas estavam suspensas por um motivo qualquer, e eles apenas acreditaram, já que ela não mentia, e nem necessidade disso tinha, afinal.
Passou a acordar e ir banhar-se no rio. No nono dia notou algo interessante. Sempre que voltava do banho de rio e passava pela árvore, lá estava uma flor nova em seu caminho. Ela abaixava e a pegava, colocando junto com as outras seis dentro de uma caixinha de madeira, que foi o que lhe ocorreu fazer. Contou quinze flores, colocou-as lado a lado em forma de bouquet e imaginou que dentro delas havia um líquido mágico.
Tão logo pensou, correu para o pé de jacarandá e perguntou a ele se estava pensando bobagens. Além disso, perguntou o que deveria fazer, já que não queria abandonar seu sonho e objetivo de terminar a universidade e ajudar a Natureza fosse em que forma fosse, vegetal, animal ou humana. Claro, não deu outra. Adormeceu.
Sonhou bem claramente que a árvore era uma linda mulher de cabelos azuis lhe dizendo que sonhos são sagrados e jamais podem ser abandonados, disse que eles existem para serem cumpridos, já que não são fantasias e sim inspirações divinas. São dicas Cósmicas. Não acreditar no próprio sonho é falta de fé na Vida, e pior, uma espécie de descumprimento de um contrato sagrado.
Já em outra cena do mesmo sonho, a árvore transforma-se em um ser masculino, com um turbante azul quase roxo e afirma que volte imediatamente às aulas, mas que antes deveria cumprir seu papel de ponte.
Acordou e tentou decifrar o que aquilo queria dizer – “cumprir o papel de ponte” -. Voltou à caixinha pegou as flores e só nesse momento percebeu que elas mantinham a mesma coloração e viço que tinham quando ainda presas ao caule onde eram alimentadas.
Resolveu libertar as flores e deixá-las expostas ao tempo. Levou-as todas para debaixo da árvore, sua fonte. Ali elas recebiam fachos da luz do sol da Primavera.
Em alguns dias secaram inteirinhas, mantendo a forma de cálice. E nossa amiga, nem pensava como conseguiria voltar à universidade. Aquilo tinha virado um pesadelo e ela, apesar do sofrimento, dedicava-se inteiramente às flores do jacarandá.
A rotina agora era: banhos de rio, almoço em família, cochilos à tarde em companhia da árvore conselheira e seguir as instruções que lhe vinham à mente através dos sonhos.
Numa tarde dessas, ela viu-se com um pilão nas mãos fazendo uma oração e triturando todas as flores do jacarandá – enquanto triturava, fazia uma espécie de mantra, pois era algo ritmado, com palavras sagradas. Conforme triturava, o aroma das flores lhe alimentavam a alma.
Cada etapa era única, pois primeiro era o sonho, depois ela repetia o que havia sonhado, e, acordada, seguia as instruções. No sonho via que estava na Lua Nova. Via o céu estrelado, a lua e diante de si conseguia visualizar gnomos, salamandras, silfos e ondinas, todos assistindo o que ela fazia. Sentia como se fosse uma benção dos Elementais da Natureza.
Uma vez as flores trituradas, ela colocava em uma solução alcoólica e deixava até a Lua Nova seguinte. Tudo pronto, ela colhia água na cachoeira em uma bacia, o que precisava ser feito na Lua Minguante e aí sim, misturava tudo em proporções milimétricas e tudo pronto! Para quê pensou?
Mais uma tarde de conversas com a árvore de jacarandá e sentia-se forte, curada e pronta para voltar à universidade. Todo esse tempo em contacto com a Natureza em conexão consigo mesma a curou.
Colocou o resultado em pequenos vidros escuros. Um deles era em spray, que aspergiu em sala de aula, outro era em conta-gotas, que tomava de hora em hora. Os outros todos deixou guardados em um armário.
Para sua surpresa, foi muito bem recebida de volta na universidade, de onde um mês e alguns dias havia saído aos prantos, sentindo-se quase que apedrejada. Nesse momento sentia-se forte, segura e confiante de que estava no lugar certo para o propósito de sua vida.
Ninguém soube o que havia acontecido, nem ela. Era como se não tivesse acontecido nada. Uma mulher que sabe o que quer, com atitude e suavidade ao mesmo tempo; fala o que sente e o que acredita ser necessário ser dito, foi esta mulher que ela se tornou.
Deu-se como tarefa intelectual estudar a planta. Descobriu que tinha propriedades químicas muito poderosas em seu caule, folhas e cascas e que foi usada como erva medicinal para a cura de sífilis quando esta era ainda uma doença muito presente no Rio de Janeiro antigo. Excelente contra feridas, coceiras e, além disso, estão presentes nesta planta algumas espécies de taninos, tornando-a adstringente e excelente para o sistema circulatório.
Quanto às flores, que é a parte que usa como tintura vibracional, esta tem um poder de unir as pontas, expandir a mente e o coração para um trabalho conjunto, trazendo segurança para que o indivíduo venha a exercer o papel que veio desempenhar no Universo.
Estava descoberta sua função, o caminho que seguiria depois de formada. E com sua mudança, despertou o respeito e a curiosidade das pessoas, o que a ajudou a mostrar seu trabalho com as flores do jacarandá, sem, contudo, revelar seu segredo com a árvore e tampouco como obter a tintura da forma que ela faz, deixando por conta de cada um estudar, pesquisar e encontrar seu caminho. Para isto estavam ali.
Neste momento ela entendeu a razão de ter ouvido em sonho o homem da árvore dizer-lhe que seria uma ponte. Bastou escolher não se vitimizar, deixar o trauma e se mover em busca do sonho, desta vez com a consciência de não ser sonho e sim objetivo de vida.
Nota: A exemplo da mulher ponte, devemos estudar antes cada detalhe das ervas que usarmos, não confiarmos em receitas prontas. Todas as informações que aqui constam como propriedades físicas ou vibracionais foram testadas. Entretanto, não recomendamos repetir sem pesquisar, tampouco sem que tenham acompanhamento profissional.
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