Conta-se que os Três Reis Magos trouxeram no dia 06 de janeiro alguns presentes para o recém-nascido Menino Jesus. Eles vinham montados em camelos guiados por todo o tempo por uma Estrela, iluminando seu Caminho até Jesus Cristo.
Acontece que independente da história verdadeira, que, aliás, preciso dizer, todas o são . É apenas uma questão de interpretação, ponto de vista e necessidade de expressão dos símbolos de acordo com cada cultura. Eu tenho a minha versão que me foi contada pelo meu avô quando eu era molequinha, e para mim é a mais pura expressão da verdade.
No caso, essa verdade, quer dizer, o que passou a fazer parte de mim, completamente integrado ao meu livro biográfico e hoje faz muito sentido, principalmente a parte que a maioria das pessoas não acredita. Meu avô era filho de espanhóis, e contava que lá era costume das crianças colocarem os sapatinhos nas janelas, a exemplo do que se fazia com Papai Noel.
Só que elas deixavam algo dentro dos sapatinhos – alimento para os camelos que chegavam à Espanha muito cansados, pois vinham de muito longe – do Oriente. Assim, os sapatinhos com capim por uma noite eram o depósito da generosidade e acolhimento por parte dos pequenos, bem como de suas esperanças infantis.
Deixavam água, pois sabiam que apesar de os camelos terem capacidade de armazenamento do líquido da vida, já deviam estar quase desabastecidos, já que a viagem era longa. Deixavam também presentes para os reis, pois eles poderiam se sentir desprestigiados, portanto um pouco de vinho e doces eles encontrariam quando adentrassem cada vila.
Inclusive, se não me falha a memória, as crianças começavam a escrever cartinhas para os Reis Magos desde o início de dezembro, relatando o que gostariam de ver dentro de seus sapatos, caso fosse possível. Sabiam que para conseguirem esse presente, precisariam ser educadas, estudiosas, enfim, todo o comportamento considerado “apropriado para boas criancinhas”.
Ah… se acaso algo desse errado e fossem julgadas crianças “fora do padrão de comportamento”, quando pegassem seus sapatinhos ali encontrariam um pedaço de carbono. Sim, encontrariam pedaços de carvão dentro de seus sapatinhos.
Meu avô contava que um menino de sua cidade, Málaga, uma vez encontrou seu sapatinho vazio e chorou muito. Ao enfiar os dedinhos bem no fundo do sapato enfim pode encontrar aquilo que temia: um pedaço de carvão! Chorou três dias e três noites seguidos, porém sem largar o carvão, que significava que ele era um mau menino, segundo dizia a lenda e seus pais repetiam.
Ocorre que sua decepção e tristeza eram tão grandes que ele resolveu não aceitar e questionar Deus sobre a razão daquilo. Nesse momento ele descobriu o que era oração com fé e força. Fazia algo como “chamar Deus pra briga”, questionando-o. Claro, enquanto fazia isso, questionava a si mesmo. Perguntava-se o que faria com aquele pedaço de carvão. O que teria feito de errado? Será que não soubera pedir?
Instintivamente friccionava-o entre as mãos com muita raiva, mas não o largava . Sim, jogava no chão, pegava de volta e submetia aquele pedacinho negro ao mais absoluto estresse.
O tempo passou e ele começou a perceber que não era um menino ruim, pois se importava com todas as pessoas que conhecia e com as que não conhecia também se importava. Se alguém estivesse doente perto dele, corria e instintivamente fazia orações, esfregava suas mãos e as impunha sobre o local dolorido no doente. Ele cresceu se sentindo diferente das demais crianças, pois foi o único a receber o carvão, descobrindo assim que não era lenda. Ele não aceitou aquilo que quiseram fazê-lo acreditar. Sofreu muita discriminação por este fato, tendo sido este o motido de mudarem até de país, vindo parar no Brasil.
Enquanto isso, o tempo foi passando, ele cresceu, virou homem e esqueceu o carvãzinho de lado. Ele o havia deixado no tempo, aos pés de uma árvore. Um dia, já casado e morando no Brasil, chegou o dia 06 de janeiro. Um de seus filhos,neste mesmo dia, teve uma febre muito alta e ele resolveu buscar a caixa onde havia transportado o carvão para o Brasil em sua viagem.
Para sua surpresa, ao abrir a caixa, ali estava o que julgou ser um pedaço de vidro. Era o carvão que havia se transformado em diamante em decorrência do estresse a que fora submetido, e em compensação à sua insistência em procurar a si mesmo. Pode perceber que aquilo era apenas uma resposta e correu a esfregar as mãos como fazia quando criança, e as impôs sobre a testa do menino febril, lembrando de sua capacidade. A febre cedeu na hora.
Nascia ali o médium curador consciente. Ajudou muitas pessoas ao longo de sua vida por intercessão de Belchior, Gaspar e Balthazar. Descobriu que tinha uma missão de cura, passando a usar incenso e mirra em seus trabalhos. Nunca cobrou, nunca estudou em livros, mas recebeu a sabedoria do Alto e nunca duvidou. Quanto ao ouro, era o Ouro Alquímico que teve a coragem de procurar em si e espalhar o ensinamento por onde passasse. O nome dele era Luís Romero, meu próprio avô, como vim a descobrir anos mais tarde através de minha avó.
Os Três Reis Magos voltam todos os anos para lembrar-nos que a Estrela Guia existe e pode nos levar onde precisarmos; que Jesus Cristo nasceu para a Fé e o Milagre, e que os presentes são nossas próprias Vidas e o que fazemos dela.
Querem saber o que o menino pediu aos Reis Magos em seu sapatinho? No papel estava escrito assim: “queridos Magos, quero estar sempre do lado do Bem, da Verdade, da Justiça e do Amor. Mas não me mande gurus terrenos. Não gosto deles!”
Obteve o que queria e todos nós também, conhecidos ou desconhecidos, muitos foram beneficiados por ele, que fazia o Bem sem olhar a quem. Só havia uma condição para atender a qualquer pessoa. Esta precisaria estar disposta a se tratar. Pedia que se comprometesse consigo mesma. Ele precisava ver o desejo da Cura, pois acreditava e afirmava: “todo e qualquer processo curativo inicia-se com o desejo, que dá o fogo de partida para toda a mudança decorrente da cura, em todos os níveis. Dizia: “não há cura sem grandes mudanças”. Meu avô era um Alquimista!
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