Uma pergunta recorrente que costumo ouvir é sobre a razão de um mesmo perfume não ficar igual em pessoas diferentes. A resposta já está embutida na pergunta – diferentes. Ocorre que um perfume só está completo, quando chega ao corpo de quem o usa.
Isto se dá pelo simples fato de que o último ingrediente, isto é, seu tempero, é o calor emanado pelo corpo do indivíduo. Entram vários fatores além do calor, isto é certo. O humor, o clima e até medicação que a pessoa use irá interferir no aroma final.
Como cada ser humano tem sua genética única, tem também seu sistema hormonal único, e isto, dependendo de cada momento que o indivíduo esteja passando na vida, suas descargas hormonais serão diferentes.
Para que vocês possam visualizar bem a situação, vamos lembrar que se o indivíduo estiver com raiva ou sob forte stress, seu suor ficará mais forte, bem…, a palavra é mais acre. E o que é isso? Sistema glandular.
Agora é só imaginar o perfume ou desodorante que esta pessoa esteja usando. Terá o mesmo efeito que tem no cotidiano? Para ilustrar melhor o que estamos falando, vou contar um episódio que ocorreu em uma empresa que trabalhei.
Uma executiva, com cargo de direção, usava um guarda roupa impecável, com tecidos nobres, acessórios caros e não convencionais. Vocês já podem imaginar que seu perfume era um daqueles estrangeiros bem sofisticados, não é mesmo?
Ocorre que esta executiva tinha uma secretária que a copiava em tudo, desde as roupas, claro que em uma versão mais popular, seguindo os padrões de cores utilizados pelo seu “modelo”, até a utilização da terminologia, copiando inclusive a entonação da outra.
Bem, chegamos onde queríamos – o perfume. Sabendo a marca, pegou seu cartão de crédito e comprou igual. O que aconteceu? Ficou irritadíssima achando que tinha comprado um perfume falsificado, chegando a ir à loja reclamar. É claro que não precisamos dizer que ela só arrumou problemas e teve que voltar para casa com o perfume e sua frustração. Assim, veio falar comigo pedindo que eu tentasse fazer um perfume igual àquele.
Diante do meu argumento de que, mesmo que fosse possível copiar, eu jamais faria isto, por motivos éticos, ela insistiu perguntando a razão de não ficar igual ao de sua chefe. Tive que ter a maior habilidade para explicar que cada ser humano é especial, com suas características, que devemos enfatizar aquilo que temos de bom e focar naquilo que não é tão bom assim e tentar melhorar.
Enquanto falava, pude perceber que não tratava-se de um simples caso de inveja. Se fosse, seria fácil resolver. Assim, marquei com ela para fazer uma consulta e daria de presente um perfume pessoal.
Imaginem a alegria dela, pois a executiva não tinha seu perfume pessoal e ela seria a primeira. Levei minha maleta com os óleos essenciais para fazer o “teste dos 13 aromas”. Explico: são 13 óleos essenciais, cada um com uma vibração diferente – são divididos em seis pares, um mais forte e outro mais suave (yin e yang), cada par vibra em uma parte do corpo e centro energético, tendo mais um como coringa, que é o décimo terceiro aroma. E de acordo com a reação da pessoa a cada aroma, podemos ver onde se encontra o bloqueio, ou qual assunto rege a vida ou momento daquela pessoa.
E é claro, estes aromas surtem efeito no momento em que estamos fazendo tal teste. E aquele foi incrível, pois me ensinou a ver o que seria um “caso patológico de inveja e competição” como um caso de admiração e carência profunda de um modelo a seguir. Vocês podem estar pensando que no fundo é a mesma coisa e estou utilizando-me de palavras diferentes para falar a mesma coisa. Explicando como funciona o teste vocês verão que não é assim.
Cada aroma, como disse, vibra em um centro de energia e órgão físico, bem como vai trabalhar diretamente na memória afetiva do indivíduo. Assim sendo, não raro escuto (es) histórias de infância, traumas – que nada mais são do que bloqueios da emoção em um determinado momento da vida do indivíduo – e ainda que isto não acontecesse, a cada aroma que a pessoa sente, ela precisa me dizer a primeira palavra que aquele aroma lhe inspira, ou seja, vem do inconsciente, além da reação corporal na qual fico atenta.
Nesse caso, ficou claro os problemas de falta de referência feminina daquela secretária, a admiração e vontade de ser como sua chefe, não por querer seu lugar, mas por vê-la como um modelo positivo. (verdade que queria o lugar também, mas isso aqui é mero detalhe)
Resumindo, fiz um perfume para ela com aquilo que a iria ajudar a trazer à tona sua auto- confiança como mulher e indivíduo. Entretanto, a conversa não acaba por aqui. Quando sua chefe sentiu o perfume da secretária, encantou-se e pediu que eu fizesse um igual para ela. Ao meu argumento de que era um perfume único, pessoal e que eu não faria igual, ela pediu para experimentar um pouco do da secretária. É claro que não preciso dizer que não ficou igual na pele dela (leia-se, não combinou com seu sistema endócrino, tampouco com sua personalidade).
Isto aconteceu há nove anos e até hoje as duas são minhas clientes e mudam de perfume periodicamente, de acordo com o momento de vida que estão passando. Hoje a executiva tem sua própria empresa de sucesso e a secretária ocupa um cargo de diretoria ainda naquela empresa onde a conheci.
Assim, posso terminar nossa conversa como comecei. Perfumes iguais, aromas diferentes. Só acrescentando que em momentos diferentes, um novo perfume adequado às necessidades do indivíduo. Bem, isto é perfumeterapia.
(artigo publicado em 14.03.2011 no Portal das Jóias, do qual sou articulista).
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