Chega um momento na vida das pessoas em que elas têm apenas duas opções: perdem tempo, energia e saúde tentando entender “o outro”, geralmente para agradar dando “jeitinhos para se adaptar e muitas vezes tentamos nos fazer entender sem muito sucesso. E, claro, o contrário também acontece. Precisamos urgentemente passar a ver aquilo que é real – e o que é real?
Excelente pergunta, caso tivesse resposta. O que existe afinal? Seres humanos, e nós, também humanos, mas todos como indivíduos – indivisíveis. Assim, passei a prestar atenção para o fato de que eu sou um livro. A cada dia escrevo uma página, durmo e acordo pronta para saber o que será escrito naquela nova página em branco.
Tem dias que tenho planejadas algumas palavras a escrever e consigo, mas há outros, em que a inspiração em forma de acontecimentos fazem o texto da página por si só. O que fazer? Agradecer e saber que se assim foi, é porque na próxima página terei o desenrolar das questões que ficaram em aberto, quem sabe esclarecimentos? É… mas podem ser mais dúvidas.
Ah… dúvidas…! Aprendi direitinho a lidar com elas e não mais as deixo me atormentar – agora elas é que precisam esperar o dia seguinte para saber o que vai ser escrito na página, o que estarei sentindo, o que terei descoberto e aí sim, será escrito. Elas que aguardem! E quem quiser respostas rápidas, que busque outro livro. Mas já vou avisando, cada livro tem uma resposta específica, portanto é bom aprender a ter paciência. Eu aprendi!
Assim, hoje vejo as pessoas como livros – cada uma com seu lugar na estante, cada livro com seu título e classificação. Existem livros de drama – não gosto muito e só pego quando sou obrigada (na verdade, nem pego, eles se impõem) – há aqueles de comédia, estes têm seu lugar cativo ao meu lado, pois são pessoas bem humoradas; os de terror, aquelas pessoas que adoram contar coisas ruins, não os deixo nem entrar em casa, portanto não encontraremos este tipo em minha biblioteca.
Comédias românticas, livros clássicos, filosofia, psicologia, mitologia, contos de fadas… e até pessoas gibis. Estes são meus preferidos, mas não é assim que a banda toca. Precisamos ler de tudo e até aquele livro que falei que aqui não entra, de vez em quando me cai um na cabeça e sou obrigada a ler, letrinha por letrinha. Mas a vantagem é que tenho outros livros. Alguns com todas as classificações aqui descritas: filosofia, mistério, espiritualidade, poesia e comédia, tudo junto e misturado.
Alguns livros deram traças por pouco uso, e, confesso, por eu os haver deixado em local inadequado – claro, tenho livros de cabeceira, e, portanto não preciso dizer que são meus preferidos, são necessários e deles não abro mão.
Alguns outros ficam guardados no quarto dos fundos, e não tenho coragem de jogá-los fora – afinal, seria uma heresia – livros não se deve joga fora. Doar? Não… deles não se abre mão, até porque são donos de si, não são objetos para serem doados. Têm vida própria.
Alguns são difíceis de ler, mas nos despertam o interesse pelo mistério que apresentam, pelo desenrolar de suas estórias e pelo fundamento filosófico que nos ensina. São meus preferidos. É claro que são livros sérios, mas leves, com humor ora ácido, ora escrachado e algumas vezes sutil. Mas já não me enganam, estou acostumada e por isso mesmo gosto deles. Passam a ser parte do indivíduo, são humanos e seu conteúdo se imprime em nossa alma para sempre.
Ora, como gostar de livro difícil, cheio de mistério e ao mesmo tempo engraçado? Exatamente por isso. Não é monótono e com eles aprendemos sem nem notar que aprendemos. São difíceis porque são robustos, para manuseá-los precisa ser com muito cuidado e respeito, pois são feitos do melhor material, raro, porém sensível. Como de cada livro de nossa biblioteca só existe um exemplar, todo carinho ainda é pouco.
Sua dificuldade é porque ali contém filosofia, poesia, mitologia e até humor. Assim sendo, são profundos e nos prendem atenção. Difícil… não sei se seria essa a melhor palavra… acho que vou trocar para intrigante…
Tem vezes que sinto falta de livros que já tive por perto, que li, gostei da estória, mas passou, esqueci… e eis que de repente ela me volta à mente. Aprendi que se uma estória voltar à sua cabeça pode ser apenas como lembrança de algo, por necessidade de resgate de algum símbolo que aquela estória carrega e não mais do que isto. Afinal, já é muita coisa! Agradecer e integrar a lembrança é o que tenho a fazer, pelo menos até segunda ordem.
Sair por aí tentando achar livros perdidos em caixas empoeiradas da sua última mudança, que você nem abriu, pode não ser saudável, mas, se a estória insistir em voltar, talvez você não deva aguardar a próxima mudança para que ele lhe caia nas mãos. Neste caso, quem sabe poderá abri-lo em alguma página, para saber o que você deixou de ler, ou entendeu errado?Resgates são importantes e curativos. Diria que são libertadores.
Cada livro em nossa vida tem um lugar especial para ficar, e tem título e subtítulo. Todos eles têm nome próprio, por exemplo, Vovô Luís – subtítulo: Acolhimento. Na sinopse vem escrito: “História de um espanhol nascido nas águas marítimas do Brasil, portanto brasileiro. Contador de estórias espontâneas, ele fazia as estórias que queria viver e contar. Do jovem esperto jogador de sinuca e boêmio, ao respeitável e amoroso curador espiritual.” Um de meus preferidos.
E por aí vai, cada livro com sua importância. E apenas para encerrar, gostaria de registrar que nenhum pode ser descartado, gostando ou não gostando dele, são histórias e lições que precisamos ler, aprender e passar adiante. Todos merecem respeito, e jamais os julguemos pela capa ou mesmo pela sinopse, pois esta foi escrita por terceiros.
Todos precisamos de nossas próprias experiências. Ler o mais que pudermos e escrever mais ainda, pois quanto mais leitura, mais estória para contar e mais força, fé, coragem e sabedoria teremos para integrar às nossas vidas.
Seja boa ou ruim, toda estória é necessária e precisa ser lida, encarada, processada e aprendida. Se o livro é seu ou se bateu em suas mãos, faça-se a gentileza de integrá-lo ao seu acervo.
Tire a poeira, trate todos bem. Respeite o lugar de cada um – até os dos quartos dos fundos e das caixas empoeiradas. Cuide diariamente de sua biblioteca. Quanto aos de cabeceira, não os trate deixando para depois, por estarem ali à sua disposição. Se estão há uma razão, você ali os colocou, e deles precisa.
É… Talvez não estejam tão à mão assim… A fragilidade das coisas é um fato, basta um gesto brusco e pode cair uma xícara de café, um copo d’água, apagando letras e partes importantes da estória. Cuidado para, ao deixar de manuseá-los, mesmo ali, diante de seus olhos, pode dar de cara com buracos feitos pelas traças e … aquele livro tão importante poderá ter virado pó.
Restará saber se você o leu, o aprendeu o suficiente e o integrou à sua própria história. Torço para que sim. Peça perdão pelas traças, pelo café derrubado, mas agradeça sempre. Livros são eternos. Nós também.
Que tipo de livro você é? Romance? Mistério? Policial? Filosofia? Religiosidade? Drama? Comédia? Quem sabe um gibi? Ou seria você um clássico?
Na verdade, por favor, não somos e tampouco temos que ser um gênero “literário” só. Somos todos eles misturados, e é isto que torna um livro interessante. Somos múltiplos. Para sermos uma boa leitura, precisamos equilibrar os gêneros nas proporções certas, sabermos usar as palavras, cada uma encaixada em seu devido lugar como se de mãos dadas estivessem. Mudarmos os parágrafos e lembrar que a pontuação realmente é fundamental, inclusive e principalmente respeitar as aspas contendendo citações de terceiros, pois estas contêm a energia e poder do “outro” e principalmente o ponto final de um capítulo para início de outro. Saber encerrar um capítulo trazendo a essência de toda a estória para o próximo, é uma arte – a arte da evolução.
Que título, subtítulo e gênero literário é você?
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