Ao nascer, mal sabia quem eu era. Lembro da força que fiz para romper o invólucro que me protegia. Mas ainda assim, não vi a luz. Onde estava continuava escuro e sem possibilidades, mas aprendi a viver por ali até o dia em que percebi que precisava de mais. Então, fiz força, tanta força que me alonguei, me estiquei, fiz com que meu corpo crescesse. E para surpresa ou dádiva, descobri que acima da escuridão havia luz. A partir de agora poderia ser bem mais. Tive medo pela fragilidade de meu tamanho, descobri por experiência que para ser uma figura notada ao redor, deveria fazer muito mais.
E então, aprendi a me alimentar, a receber luz, a transformar minhas energias. Aprendi a dar cor e cheiro à minha vida. Aprendi que com elas, repelia e atraía o que me era conveniente. Mas também sofri com intempéries, com mudanças em minha própria forma, com a idade. Criei espinhos não para ferir, mas sim, para me defender de ataques e sofrimentos. Me embelezei a cada primavera para agradar a mim mesmo e ao entorno. Percebi que já não se tratava somente de uma vida solitária, mas minha função no coletivo, na harmonia e renovação da vida coletiva. E cada dia aprendia mais, até o momento em que precisei dividir o que sou. Floresci a ponto de embelezar o mundo e atrair quem pudesse me perpetuar. Preparei meus órgãos e me vi pela primeira vez alimentando a Terra, dando frutos. E sem me dar conta, ao meu lado já havia a extensão de mim. Fruto do meu fruto. A flor mais rara que saiu de mim e agora embeleza o semelhante. Nesse momento, nesse período, percebo que minha vida não foi em vão. Descubro que me espalhei no mundo e deixei minha marca, minha cor e meu aroma. Os dias agora começam a parecer mais lentos.O sol, mais importante, a água mais nutritiva. Talvez eu já não floresça como antigamente, pois já passei essa função adiante, mas trago o alerta de que ainda vivo. Viverei até minha função realmente se findar. Carregarei comigo as folhas que ainda possam fazer sombras a alguém, mas precisarei de mais cuidados, mais lembranças do quanto fui importante nessa jornada chamada vida. Se hoje, meu jardim se tornou floresta, ou minha mata se tornou estrada, as mudanças serão aceitas e necessárias, mas lembrando que onde piso no solo, tão somente é meu e faço de meu espaço meu lugar no mundo. Entre flores e primaveras, frutos e verões, agora curtirei a saudade das chuvas e regadores que tanto me fizeram sorrir. Sigo na tendência desse período, de perceber que ainda tenho espaço no mundo mesmo que já não me percebam mais vivendo nele.
Então olhemos para as roseiras, mangueiras, aroeiras e jabuticabeiras que somos nós, que são nossos pais que ainda convivem conosco e nossos filhos que floreiam cada dia mais. Percebam a sua história e as dos que ainda aqui vivem, porque em breve seremos todos semente novamente, prontos para refazer todo o processo.
Óleo essencial da phoenix: osmanthus
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