Tendências entre 28 de julho e 03 de agosto de 2019 – A PLUMA vale a pena?

Logo que nasceu, ganhou um ganso, essa menina sempre saberia o que era amor e proteção. Conforme a plumagem se enchia, suas pernas ficavam maiores e a permitiam correr pelos campos. Sempre junto com seu ganso amigo, fiel e protetor.

Menina espevitada, cheia de energia, dominava as colinas e subia em árvores, mas sempre ao lado de seu único amigo ganso. Mesmo quando virou mocinha e já olhava a chácara ao lado, percebendo os meninos que ali se chafurdavam em lamas, continuava sendo ela e seu amigo fiel ganso.

Era o amigo que a compreendia, que a curava de suas tristezas, que a escutava por horas e horas sem nenhum tipo de julgamento. Exatamente como os dias transcorriam, os dois cresciam e compartilhavam suas companhias. O ganso já havia sido aluno, cachorro, a bailarina, o soldado, o adversário de corrida e muitas e muitas vezes, o pai e a mãe dela.

Foi quando a vida adulta chegou, e os dias já não eram tão lindos e longos como antigamente. Agora se falava muito em crises, as paredes transpiravam brigas e preocupações e as economias estavam mais controladas. A quem recorrer quando a menina, agora moça, queria apenas contar sobre o rapaz da escola? Quem a iria escutar por horas e horas as queixas de que seu corpo não estava tão voluptuoso como os das outras meninas? Quem estava ali assistindo os novos pelos, sangue, dores e amores? Apenas seu amigo ganso.

Foi assim, em um dia nublado, cheio de indagações a serem confidenciadas a esse amigo, que a mocinha teve sua primeira grande ruptura com a vida. Ao chegar em sua chácara e procurar embaixo de cada móvel, na sombra de cada árvore e na plenitude das águas calmas, só encontrou o vazio. Seu melhor amigo já não estava mais ali.

Agora não havia mais ninguém. A vida lhe tirava sua única fonte de crença ou fé, lhe tirava seu único amor verdadeiro, seu companheiro ganso.

A moça se trancou em seu quarto e chorou por horas, por dias, por meses e por anos. Envelhecendo sozinha, desamparada, fraca, cheia de medos e rancores. Nada mais importava além do vazio de seu peito e sua frustração com a vida. E chorava, chorava, derramando rios de lágrimas naquele travesseiro que mal secava. E a partir de agora se tornou ele, o travesseiro, seu melhor amigo. Esse que era seu único conforto e confidente. Travesseiro esse, que era o único a compreendê-la e que se tornou seu diário, seu primeiro beijo, sua paixão, seu vilão, seu objeto de descarrego e muitas vezes seu pai e sua mãe. Era tão confortável que ela ainda não havia percebido,  como era macio e cheiroso, recheado de plumagem de amor e esperança. Recheado de plumas que só um grande amigo poderia oferecer.

E quando as outras dores a assolaram e outras perdas foram necessárias, o travesseiro estava lá, desde o dia em que seus pais com lágrimas nos olhos venderam a carne para o chinês que os pagou com as três moedas que renderam um saco de sementes, que floresceram, vindo a se e tornar um grande cultivo de trigo, que tornou-se o sustento da família por anos, que ajudou a pagar a faculdade da menina, que se tornou  uma bem sucedida agrônoma  e que em um gesto de amor de seus pais, se transformou em um presente para a menina não perder o grande amor, o travesseiro, o ganso.

As armadilhas existem e existirão sempre. Mesmo na dor, mesmo na transformação, nunca estamos  desamparados. Estamos sempre tão ligados aos nossos sofrimentos, que esquecemos muitas vezes dos sacrifícios de quem nos ama.

Óleo Essencialgerânio

 

Marcelo Barroca

Marcelo Barroca Assertividade. Intuição. Humanidade. Assim se caracteriza seu trabalho como Oraculista. Tradução de símbolos arquetípicos com a marca de quem ama e respeita o que faz.

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