Tom era um menino agitado, de cabelos avermelhados que não parava quieto. Diziam que ele “sofria de uma doença cheia de letrinhas”.

Acho que as letras eram TDAH – um tal de Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade – Menino inteligente, de bom coração, muito tímido, apesar de sua agitação.

É engraçado isso, ele não se aproximava dos colegas e os colegas não se aproximavam dele para nada –  fazia tudo sozinho. Mentira…! Engraçado não  era, mas de uma forma protetiva, ele aprendeu a se fazer companhia.

Tinha preocupação legítima com a coerência amorosa, com o sentido das coisas. O que não fazia sentido em seu coração, não acatava, mas aquilo que fazia seu reloginho da sensibilidade funcionar mais agitado, era o sinal: tinha toda a sua atenção e Dedicação. Esse é o D do rótulo das letras que o atribuíram.

Acho até que o A das letrinhas que pregaram junto ao seu nome como um rótulo, pode ser de Amoroso ou Atencioso, ou quem sabe seria de Afetuoso?

Ninguém precisava pedir que fizesse nada. Se ele visse que alguém  estava precisando de algo ao seu alcance, ia lá e fazia. Quando se davam conta, estava tudo pronto, sem que ele tivesse ao menos tocado no assunto.
Gostava de ajudar e também  de atividades que só dependiam dele mesmo.

Quando a agitação batia à porta é porque a paciência já tinha  saído pelos fundos pra dar um rolé. As pessoas achavam que era impaciência, mas era mesmo “H” de hiperatividade um menino com “bicho carpinteiro” como se dizia antigamente.

A mãe dele é uma mulher muito legal e atenta. Um dia conversando com ela fiquei sabendo que o menino era muito especial – o tal do déficit de atenção existia, e ela, como tinha consciência de que era realmente algo considerado doença,  não a negou, ao contrário, tratou de prestar mais atenção ao menino  e à si mesma. Assim,  passou a se ocupar em pesquisar o que seria possível fazer para  minimizar o que poderia vir a se tornar problema.

Trabalhar preventivamente ao seu favor. Começou na procura de um bom médico especialista até encontrar “um bom médico especialista muito bom”. Como assim? Este explicou que tão importante quanto a medicação, era o respeito ao Temperamento de seu filho. – E o T do TDAH, virou Temperamento. Explicou que se ela tivesse consciência do que que se tratava e de como lidar com respeito, veria que ser especial é normal. Não parece nada, mas isto fez muita diferença para a família.

Tom não ligava muito para o mundo de fora. Em compensação, tinha muita atenção ao mundo interno, tanto o dele quanto o das pessoas – ele percebia as coisas sem que precisassem ser ditas.

Ele pensava: “por que ele teria que ter atenção ao mundo de fora, se este é tão barulhento e vazio ao mesmo tempo?” “Como um vazio faz tanto barulho?” … E ficava horas perdido em seus pensamentos… Perdido? Nem sei… Acho até que não – ao longo dos anos foi adquirindo uma espécie de sabedoria diferente, que acho admirável.

Ele nunca se conformou com o fato de  ter que estar com fome na hora que o almoço ficava pronto; por que tinha que ter sono só porque todos tinham ido dormir? E estudar, ler, escrever, compreender no ritmo igualzinho dos outros?

Ele tinha seu próprio tempo, e sabendo disso, a mãe compreendia, respeitava e conversava muito com ele. Além disso, na casa de Tom tinha um quarto chamado de “O Quarto do “Eu”.

Todas as vezes que ele precisava pensar, ficar sozinho e até mesmo gritar de raiva, era só ir para o Quarto do Eu, onde podia até falar palavrão, socar um saco de areia, cantar alto, dançar enlouquecidamente, – como diria sua mãe, – e, depois dos momentos catárticos, –  ela já sabia, – vinha o cansaço. Ali tinha um tatame onde ele se jogava e meditava, fazia yoga, dormia, sonhava, e quando acordava era com ótimo humor e boas ideias. Geralmente depois disso,  desenhava lindamente.

Ali tinha material para escrever, desenhar, pintar e até fazer esculturas em argila. Tenho comigo poesias escritas, desenhos e gravações de músicas do Tom feitas naquele “Quarto do Eu”. Quantas habilidades tinha o menino! Ah… agora entendo o H das tais letrinhas.

Como precisasse estudar para crescer e um dia mostrar seus talentos para o mundo – sua mãe estava certa – ela o mandava para a escola, mas antes conversava com ele, pedia que tivesse paciência com o ritmo dos colegas, lembrando que cada indivíduo é único e ninguém precisa agir, pensar, sentir e entender igual ao outro. Reforçava o pedido diariamente para que ele não caísse em provocações – uma maldade chamada bullying. 

Ensinou que as crianças implicavam porque não o conheciam direito, e explicou que o diferente dá medo nas pessoas, elas se sentem ameaçadas.

Sim, ela assumia  que ele era diferente, pois ninguém é igual mesmo, portanto são todos diferentes. O maior problema, e isto sim era um problema, é que as crianças se esforçavam para serem iguais umas às outras para que pudessem ser aceitas e  pertencerem aos grupos. Isso criava problemas sérios, que poderiam inclusive, levar para a vida adulta.

Os garotos da escola implicavam com tudo e o chamavam de Tom o “cabelo de milho”, porque eram realmente vermelhos e lisos como os da espiga de milho. Passava nos corredores da escola e ouvia o coro: “Tom cabelo de Milho, Tom cabelo  de milho…!”

Existia uma questão com a palavra- “especial“, “diferente“, mas a mãe de Tom reforçava que ele não precisava ser igual porque … bem…, porque  ele era diferente mesmo  e especial de verdade, e ele já sabia disso.

Falava isso com tanto amor, olhando nos olhos do menino, que não tinha como não se sentir pertencente a algo maior. Ela também era uma mãe especial.

Assim, Tom foi crescendo e aprendendo a si mesmo. Seguia os conselhos de sua mãe – era especial, não precisava tentar ser diferente do que era, e quando o provocavam, simplesmente lembrava de que o “provocador” deveria estar com algum problema, precisando de atenção. Lembrava sempre das letrinhas, quem tinha déficit de atenção eram esses meninos, mas era de atenção dos pais”.

Ocorre que mesmo sabendo disso,  no começo quando essas coisas aconteciam, Tom tinha crises de raiva e reagia, pois tinha força, e sua habilidade com as mãos servia também para quebrar a cara de uns e outros sem noção. Tentava segurar, mas o ímpeto e a força são da natureza humana. Por isso, o Quarto do Eu foi tão importante. Aprendeu a respirar antes de agir… Ufa!

Mas por natureza ele era mesmo atencioso, fez bons amigos ao longo de sua infância e adolescência, tão logo conseguiu ver que não era tão diferente assim. Abriu-se para as pessoas. Não eram muitos, porém quem tem bons amigos não precisa de galera.

Hoje, adulto, vemos  que há momentos em que parece um senhor sábio, em outros, um adolescente sempre pronto para trabalhar, divertir-se, ou o que for, pois vitalidade não lhe falta.

Depois que descobriu que era realmente especial e investigou aquelas letrinhas, procurou um médico, que explicou o significado científico daquela condição. E deu uma notícia, que para ele não fez a menor diferença – pediu que esquecesse aquelas letrinhas – mas tanto fazia, já tinha aprendido a lidar consigo mesmo. O passo mais importante foi assumir que era diferente e lidar com aquela condição, ele gostava de ser especial.

Fez um tratamento para livrar-se da sensação de urgência que tinha – isso queimava-lhe o centro do peito. Tratou-se a princípio com terapia convencional, aliou à meditação, yoga e hoje não toma mais remédios para aquele calor no peito. Quando sente esse calor já sabe o que fazer: vai para o “Quarto do Eu” – manteve a tradição da casa materna – e toca seus instrumentos. Muitas vezes dali surge uma música nova que faz sucesso no mundo todo.

Pois é, Tom é músico famoso, discreto e está sempre em companhia da mulher e dos filhos. Viajam juntos. No final do ano planeja visitar sua mãe no Brasil para agradecer-lhe por todo carinho a ele dedicado.

Ele me explicou que o Quarto do Eu foi muito importante para ele.  Adulto, entende que toda aquela energia descarregada não poderia ser no quarto de dormir, pois eram os excessos de energia, nem sempre de bom padrão.

Aprendeu tanta coisa por saber que era especial,  que em agradecimento à Vida por ter tido um médico sério; pelas condições de ter tomado os remédios certos; alimentação específica toda balanceada;  ter aquela mãe perfeitamente antenada  com sua condição, e principalmente por ter tido o Quarto do Eu, decidiu fazer um projeto para atender crianças carentes.

Ele elaborou um projeto para   desenvolvimento das potencialidades do Ser Humano, onde consta aulas de meditação, yoga, música, jardinagem, dança, escultura, pintura e todas as formas de autoexpressão, para as crianças e suas mães. Além disso, também tem ideia de colocar sacos de areia para  treinos de luta naqueles momentos de catarse. Psicólogos,  fisioterapeutas, assistentes sociais, enfermeiros e homeopatas também estarão lá. Será uma casa onde cada um colaborará com o que tem e pode, na medida em que seja possível a cada um.  O Projeto chama-se “Encontrando o próprio Tom”.

Nós pretendemos estar lá com nossas alquimias, constelações familiares, Reiki, Aromaterapia, mapas natais, fitoterapia, florais, e tudo o mais que possamos “colaborAGIR“. E você, quer vir conosco? O que você traz na bagagem?

Tom, sua mãe e equipe são muito animados com esse projeto, mas no momento andam um tanto ocupados ajudando pessoas fora do Brasil, que estão precisando muito deles.

Falei com o Tom hoje. Fiquei feliz. Ele queria confirmar a fórmula de seu perfume pessoal, o qual usa desde criança. Adivinha qual o principal ingrediente que utilizamos para ele? Não precisa adivinhar não. Eu conto. É o vetiver. Leia neste link e saiba o por quê.

Nota: Tom é um personagem real, com nome fictício, que  me pediu que contasse sua trajetória.

Interessante contar é que as coisas podem parecer de um jeito, mas na verdade, são bem diferentes. Dona Minerva, – esse era o nome da mãe do Tom,  – costumava ser uma mulher triste, sem vitalidade, não via graça nas coisas. Tanto que quando ficou grávida, nem quis casar-se como o pai dele, conforme lhe foi proposto, pois ele a amava verdadeiramente.

Ela não quis porque achava tudo chato e tinha preguiça da vida. Tudo mudou quando viu que seu filho precisava dela. Tornou-se uma ativista da saúde, da vida e da alegria. Vivia em reuniões na escola, supervisionava tudo e ainda passava sua experiência para outras mães que precisavam.

Foi assim até ver que Tom já dava conta de si mesmo. Outra virada na vida de Minerva. Voltou aos estudos e passou a interessar-se em ter uma vida afetiva, fez amigos, voltou a trabalhar. A doença de Tom passou a ser a saúde da mãe dele, e para ele, o próprio temperamento, uma espécie de cura.  Hoje em dia não se fala em doença – é temperamento -. E o detalhe interessante disto tudo:

O óleo essencial que ajudou muito Minerva a segurar a própria onda, foi exatamente o vetiver, pois aos poucos pode revelar a si mesma os segredos de sua alma, pode sentir que pertencia a algo maior do que ela mesma. Não mais vazio, não mais solidão. Hoje conhece sua força criativa – criação e ação amorosas, aliás, como o Tom.

Nota: Como conta a estória de Tom, cada ser humano é único, age e reage de forma diferente, e por razões diferentes. Assim, deixamos claro que para o Tom o óleo de vetiver foi (e é ainda) uma opção sensacional. (É para algumas – nem todas – crianças na mesma condição). O mesmo ocorre com a “mãe maravilhosa” dele (meu ponto de vista). Isto não significa que ela seja melhor do que outras mães – cada uma faz o que pode, dá o que tem – são únicas também, indivíduos -. A comparação é um grande “mal no mundo”. Cada um tem a mãe (e o filho) que precisa ter. No mais, é agradecer.

foto homem com violão:  Photo by Jacob Bentzinger on Unsplash

Valéria Trigueiro

Valéria Trigueiro é perfumeterapeuta com experiência na elaboração de perfumes personalizados segundo o equilíbrio dos 4 Elementos. Seu trabalho define-se como "Aromaterapia e Espiritualidade.

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