Sumário
Processo alquímico multidisciplinar realizado com Maria Também – Alquimia, Aromaterapia e Constelação Familiar. Caso real adaptado como fábula.
Maria Olivares chegou para uma consulta de florais alquímicos há uns cinco anos aproximadamente. Veio acompanhada de si mesma. Pouco falava, queria soluções para o seu caso. Dizia não conseguir relacionar-se bem com as pessoas, pois não era compreendida.
Contou que havia “resolvido ser agradável”, como ela entendia que isso fosse. Assim, a cada pessoa que encontrasse e achasse ter potencial para ser seu parceiro de vida, buscava entender, acompanhar e “se encaixar nos gostos e hábitos do candidato à alma gêmea”. Não queria menos do que isso.
Namorado? Marido? Não. Status: alma gêmea de Maria Olivares. À época estava com 45 anos e 12 “relacionamentos sérios desfeitos no curriculum”.
Começamos, conforme ela solicitou, pelo tarô alquímico, pois este conta a verdadeira história do indivíduo, não poupando inclusive os bastidores. Além disso, aprofunda e aponta os desafios do presente, inclusive aqueles que têm origem no passado remoto, que uma vez identificados, apresentam-nos um Caminho a trilhar como terapia, como processo de cura, para que enfim, o indivíduo possa protagonizar uma solução.
A Alquimia como Caminho.
Maria era brasileira, carioca, cheia de vida, amava carnaval, praia e muito sol. Ficava realizada quando estava cercada de pessoas. Apesar de ter poucos amigos, pessoas para socializar tinha até bastante, ela apenas não se envolvia intimamente com ninguém. As pessoas respeitavam isso e tinham atração pelo mistério que ela evocava.
Ela foi transferida de cargo e de país, por conta de seu trabalho. Assim, fazíamos nossas consultas online via Skype naquela época. Tivemos que adaptar a indicação dos óleos essenciais, florais, e banhos de ervas. Lindo desafio!
Maria e sua talvez alma gêmea
Maria conheceu um empresário italiano bonitão, sedutor e muito bem sucedido financeiramente. Telefonou-nos diretamente da Itália pedindo uma leitura de tarô urgente. Uhm… sinal vermelho! Leitura feita e confirmada pelos trânsitos astrológicos, avisei. Conversamos pelo Skype sobre os resultados da consulta.
Como que para me advertir, foi logo falando: “estou apaixonada, encantada, desesperada…” Entendi imediatamente: “Não me fale o que não quero ouvir, pois vou fazer o que eu quero”. Credo, pensei… vou ter trabalho! Conheço esse discurso – de mensagens veladas até que eu entendo.
Perguntei como ela se sentia com ele, qual o tipo de pensamento que costumava ter quando estavam juntos; se tinha sensação de familiaridade; se sentia-se relaxada; quais as qualidades principais que via nele; o que ela admirava na personalidade dele; se gostava do cheiro da pele, etc…
Após algumas respostas que nada diziam, fiquei tranquila para pedir que prestasse atenção naquilo que não estava sendo dito; que conversassem mais sobre pessoas e seus valores, que falassem menos sobre coisas. Eles precisariam se conhecer antes de darem o passo que ela pretendia.
E principalmente, saber o que sentia. Pedi que atentasse para os sonhos dele. O mistério das pessoas está escondido nos sonhos que têm na Vida; daquilo que esperam dela e daquilo que elas mesmas estão dispostas a fazer (ou conceder) para conseguir.
Ela relatou estar disposta a tudo para conseguir realizar seu sonho. Qual mesmo, Maria? Ela não respondeu…
“Não se deve falar com estranhos”, aprendemos quando crianças. Na idade adulta precisamos alertar: “não se deve morar com estranhos ou dormir com estranhos, de preferência.
Na verdade, quando veio consultar, é porque desconfiava de algo e queria confirmar, ou melhor, deu-se a chance, de quem sabe, ouvir o que queria? Mas já era tarde, quando ouviu, não gostou e sumiu! Nada melhor do que o tempo, pois este não mente, não se engana e é exato.
Algo em torno de três anos se passaram sem que eu tivesse notícias de Maria, até o dia em que recebo uma ligação no meio da noite. Ah.. tinha que ser algo dramático! Era ela contando o “romance mexicano” que tinha vivido com o italiano – a própria vida, com roteiro escrito sem parceria, ela queria dominar o destino, e não só o dela. Contou que estava muito feliz com Ângelo, havendo se casado com ele e estavam vivendo na Itália. Decidiu que concordaria com tudo o que ele dissesse, como estratégia. Se ele fizesse dieta, ela também faria, se ele gostasse de filmes de terror, ela também passaria a gostar. Até o café, que ela era viciada, que ele parou de beber, ela também parou. O acompanhava em tudo.
Ele passou a dizer que tinha um sonho – comprar uma pequena terra no interior da Itália, sua terra natal. Teriam uma vinícola própria – dava até o nome, incluindo o dela junto ao dele.
Imediatamente Maria comprou o sonho de Ângelo para si mesma.
O que acontece quando as pessoas inventam personagens e repetem as falas deles com frequência como Maria fez, uma das consequências é passar a acreditar neles.
A essa altura, ela o admirava, gostava daquilo que ele gostava e os hábitos dele eram também os dela. Aquela “estratégia de sedução” para ter uma “alma gêmea” inventada, materializou-se, mas não da forma esperada. A situação financeira incrível, como ela acreditava que ele tinha, a gentileza, os sonhos e tudo o mais idealizado, veio à luz em forma de decepção e sofrimento.
Ela apostou todos os seus investimentos emocionais e financeiros no “sonho de Ângelo? Não exatamente.
No sonho deles, segundo relatou, mas assim que o relacionamento estava estabelecido e ela sentindo-se segura – o que não demorou muito – transferiu suas finanças, seus pertences e expectativas para uma linda cidadezinha ao noroeste da Itália, onde juntos realizaram o sonho. De quem mesmo?
Não demorou muito, Maria passou a observar Ângelo se movimentando de um lado para outro cuidando de uvas, colheita, controlando fermentação, e tudo o que fosse necessário para o sucesso de uma vinícola. Ele estava realizado, vivendo seu sonho.
Ela estava sozinha. Não se reconhecia naquilo. A princípio tudo o que achava lindo e acolhedor, como os castelos medievais, as montanhas brancas, o frio elegante, a possibilidade de esquiar quando quisesse, pessoas falando francês e italiano, além do vinho de excelente qualidade, tornou-se lugar comum, tédio…, solidão.
Deu-se conta que não estava de férias, não era turista e já estava ali há muito tempo. Ângelo pouco tinha tempo para ela, os assuntos entre os dois eram poucos e rasos.
Ela só se divertia quando os poucos amigos locais os visitavam, pois aquilo era quebra na rotina. Até que um dia descobriu que era conhecida na localidade pelo apelido que o próprio marido a colocou – “Maria Também”.
A princípio sentiu-se ofendida, mas depois viu que ela mesma havia inventado aquilo – percebeu que se adaptou e criou uma “outra Maria” para encaixar-se no sonho de Ângelo. Era mesmo a Maria Também.
Onde está seu sonho, Maria?
E foi nesse ponto que ela lembrou da minha voz perguntando ao telefone: “qual o seu sonho de vida?”; “o que a faria feliz?; “como você se vê no futuro?”
Tudo seguido daquelas perguntas sobre Ângelo, que ela não soube responder. Na verdade, agora ela sabia – não queria era pensar naquilo, portanto não respondeu nem para si mesma, à época. Lembrou que pedi que não inventasse personagens para viver. Se era tão criativa, deveria escrevê-los, pintar quadros, compor…
Não devemos inventar nossa vida, tampouco atrelá-la à vida de terceiros, sob pena de não assumirmos nossas responsabilidades e arquivarmos nossos sonhos – devemos vivê-la e ajustar o que não está ao nosso gosto e à realidade que se apresente.
Podemos e devemos viver em parceria, mas sabendo que viver ao lado de alguém requer eventualmente fazer concessão e permitir que o outro também as faça em nosso favor, sem contudo abrirmos mão de quem somos, do que queremos ou precisamos para o nosso crescimento e realização pessoal.
Desta vez ela ouviu com atenção, fez os exercícios propostos, que consistiam em meditações, mantras e alguns exercícios feitos com sinergias de óleos essenciais bastante específicos.
Foram cinco meses de consultas, e o resultado: ela voltou ao Brasil, separou-se amigavelmente do Ângelo. Trouxe na bagagem algum conhecimento de vinhos, que iria usar em sua nova vida.
Hoje Maria tem plena consciência de que tinha tanto medo de não dar certo na vida, que agarrou-se à ideia de uma relação utilitária, mais especificamente, um casamento com alguém bem sucedido financeiramente. Teria adiantado alguém falar para ela que estava inventando personagens? Teria adiantado dizer repetidas vezes, como fizemos, que ela poderia crescer sozinha, pois tinha talento e forças para tal? Teria adiantado dizer que se quisesse casar, deveria ser por outros motivos que não a fantasia de segurança financeira? Que ilusão!
A sombra e Maria se encontram – Nosso trabalho em movimento
No fogo Alquímico jogamos sua sombra. Ela se debate, tenta escapar, até que se dá conta que precisa se transformar.
Decide juntar forças e não virar cinzas. Se dispõe a usar o fogo como consciência. Ele é parte dela também. Sabe não ser apenas sombra.
Para chegar a ser sombra precisou da luz. Agora fará o caminho inverso. É sombra e busca a luz em si mesma. Em algum lugar dentro de si, sabe-se completa. Dói, quantas partes chamuscadas! Ela se olha como se fosse a primeira vez. Vê camadas de cinzas saídas de si.
Sobre elas derrama lágrimas de arrependimento por ter ouvido e se aliado a um velho e carcomido senhor chamado
(C) Ego, por ter rejeitado e invejado a luz.
Falava em erros, culpas, medos e raivas. Sim. Tudo no plural. Dizia precisar livrar-se deles. Dizia-se abandonada e só. Acreditava-se vítima de abandono, mas ainda assim sentia-se culpada. Do quê? Não sabia, mas só poderia ter errado, pensava.
Tanto chorou que viu suas cinzas misturadas às lágrimas. Estranhou a consistência, pegou aquela massa nas mãos mexendo-a de um lado para o outro sem saber o que pensar. Estava vazia, não era mais sombra… e tampouco era luz. O que seria?
Lembrou de tantas pessoas nas quais projetou-se em vã tentativa de ver a si mesma. Lembrou-se de Ângelo. Sua memória lhe trouxe de volta tantas Marias, umas inteligentes, outras suaves, algumas generosas, ainda havia as duras de coração. Enquanto pensava, ia moldando a massa feita de cinzas e lágrimas.
Lembrou de muitos Josés. Alguns secos, outros rudes, mas desta vez conseguiu ver homens diferentes- uns carinhosos, outros gentis. Prestou atenção nos acolhedores e lembrou de seu pai, que nada disso era.
Pensou que já era adulto e poderia olhar na direção que quisesse. Concluiu que seu pai seguiu o rumo que conseguiu, e este caminho era só dele, não o seu. Mentalmente agradeceu a semente da qual foi gerada.
Agradeceu por aquele momento de lágrimas, cinzas e passado. Havia dor, mas já sabia que ela era só sua. Pensou: “Minha dor?” Não! Não sou dona de nada. Não a escolhi.
Havia chegado o momento de decisões – separar o joio do trigo – Quero essa dor como companhia? Do que ela me serve? O custo para alimentá-la será alto, pensou.
Viu-se sugada, com aparência cansada e pode concluir que enquanto alimentava aquela dor mofada pelo tempo, deixava de alimentar-se do presente.
Pensou em sua mãe. Deveria agradecer à ela também. Como a achava egoísta, como a condenou! Mas agora, ali diante de cinzas e lágrimas agradeceu à mãe também. Agradeceu o abrigo de seu útero, o alimento, o colo muitas vezes negado, mas a verdade é que tudo o que importava era ela ali, aquele sagrado momento de perceber-se. Seus pais foram o início, a oportunidade primeira. O que fazer com o presente caberia a ela a partir de agora.
A Alquimia do passado no presente
Ela renascia. Lembrou das dores que causou, das feridas que soprou. Olhou para a imensidão do Céu e perguntou: “E agora, onde coloco a raiva, o medo, a culpa e os sentimentos repetidos – ressentimentos?” “Não os reconheço mais.”
Aproximou-se dela um pássaro imenso. Bateu as asas circulando seu corpo. Ela ouviu: “Respire… sopre…!” A Natureza é compensatória e não trabalha em vão. Raivas, medos, e todo esse peso que você carrega serão substituídos. Você está passando por um processo de autoconsciência, encontra-se com algumas feridas que precisarão ser cicatrizadas.
Todos os sentimentos que não lhe cabem mais estão sendo reciclados e você precisa de paciência – não os rejeite de forma passional, os entenda. Só assim você estará liberada e eles também – irão sozinhos para o Fogo que transforma.
Não rejeite a sombra achando que ela seja a detentora de todo o caos que você sente dentro de si. A luz é matéria prima da sombra, repito, e é na direção dela que você deverá ir. Transforme-a. Caso a rejeite, ela pode se esconder e voltar mais tarde como ressentimento. Você quer sentir isso tudo outra vez?
Olhou para si mesma e viu uma figura feminina moldada na massa que tinha nas mãos. Era Vida, transformação. Uma obra de arte em andamento, como todo ser humano. Era humana, não negaria a sombra que costumava ser, não acreditaria ser apenas Luz. Era uma tela em branco, potes de tintas de várias cores, pincéis de várias espessuras.
Uma chama da fogueira soltou-se, uma gota de orvalho cresceu, o pássaro das asas coloridas voltou. Todos vieram em sua direção. -“Estamos aqui para ajudá-la nesse processo – daremos movimento à sua matéria”. Cada um deu-lhe uma bênção:
– “Eu sou o Deva do Ar e lhe concedo o dom da expansão da palavra sagrada”; Entregou-lhe folhas de louro.
– “Eu sou o Deva da Água e lhe concedo o dom da circulação, da fluidez direcionada para tudo o que quiseres e que seja construtivo, habilidade para conseguir o que deseja, pois isto lhe ajudará a encontrar seu propósito de Vida;” Entregou-lhe folhas de cipreste.
– “Eu sou o Deva do Fogo e lhe advirto: Sou o princípio, posso ser o fim, mas peço jamais voltar a esconder-se em si mesma”.
Concedo a consciência de que estou em todo lugar e de mim não há como esconder-se. Dou-lhe a transformação agora. Não mais sombra, não totalmente luz – o Caminho do Meio é caminho e destino. Entregou-lhe cascas de canela.
Assim, a Sombra levantou-se, fez uma reverência, sorriu e nasceu – uma bela e suave mulher, com a firmeza e determinação de um destemido herói, a quem todos admiram e respeitam. Um ser humano integrado. Nem sombra, nem luz, nem noite, nem dia.
O centro de si mesma dentro do Infinito, consciente de que a Vida requer compromisso. Descobriu-se amada, descobriu-se capaz de amores profundos, mas a responsabilidade por sua felicidade e bem estar será sempre sua. Sentiu-se em paz.
Percebeu-se parte do Universo, olhou seu corpo, seus olhos, mãos, observou-se por inteiro e pensou que ela era o lado de fora do Universo, uma parte ínfima, mas saber disso a fez sentir-se validada.
Estava curada? Ouviu uma voz dentro de si – “a cura se dá a cada dia, pois ao despertar pela manhã estará tendo 24 horas de oportunidades. Saber que a cura de todas as dores é um processo é a própria Cura.”
Olhou para os lados, não viu ninguém, mas não estava sozinha e sabia disso. Ouviu dentro de si: Não pertenço a nada, nem a ninguém. E por isso mesmo posso me doar em amor quando o sentir, pois tenho a mim mesma, sou Infinito.
Maria voltou da Itália ao Brasil, uniu-se a uma das suas irmãs, e juntas abriram uma casa de vinhos (Wine Bar) onde apenas se servia “vinhos com propósito”, estes tinham em seu corpo flores, especiarias, ervas e frutas específicas – cada uma para uma finalidade que atendesse às necessidades emocionais do ser humano.
Ali ocorriam leituras de livros especiais com debates. Serviam queijos, vinhos, pães e abraços à alma humana Dalí ninguém jamais saiu sentindo-se só.
Os Devas, suas bençãos e propósitos – Óleos Essenciais
Deva do Ar – óleo essencial de louro – expansão da mente, privilegiando a intuição, o dom da profecia – protege contra energias intrusas. Permanência nas próprias metas, com criatividade, leveza, porém de forma bastante firme em seus propósitos;
Deva da Água – óleo essencial de cipreste – tem a capacidade de auxiliar nos processos de transição, deixar pessoas, situações ou sentimentos partirem, tomarem seus lugares.
Quando há necessidade de transformação da sombra, permite ao indivíduo deixar ir o “velho eu” e suas crenças inúteis. Permite o (C) Ego partir, assumindo-se novas atitudes. Contra sentimento de arrependimento (culpa). Combate a dor do desamparo.
Deva do Fogo – óleo essencial de canela – traz a benção do movimento doce através da consciência de não mais precisar esconder suas feridas de si mesma. A solidão não tem vez, o acolhimento da própria emoção assume seu lugar. Vibração de alegria, automotivação e confiança.
E o Deva da Terra? – Maria deixou de ser Maria Também e tornou-se Maria Alquimia, aquela que transmutou-se – a partir do olhar para suas sombras, aceitou-as e modificou as energias em luz – luz humana, sem pretensões à perfeição. Hoje realiza, aquela que molda e precipita seus desejos.
Escolheu ser terra fértil, onde cultivaria seus desejos, ideias e projetos – Colheria a si mesma no tempo certo, a cada estação ela seria melhor. E assim está sendo.
Nota: Esta é uma fábula, baseada em fatos reais. Ilustra emoções e experiências humanas. Trabalho realizado em parceria com o Constelador Sistêmico Marcelo Barroca.
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