Perfumeterapia – resgatar, processar e ressignificar memórias

O que você está fazendo aí? – perguntou a voz firme de quem sabe o que diz. Olhei para os lados procurando de onde vinha aquela voz. Estranho… Nada. Ninguém…

Continuei totalmente mergulhada no que fazia por um longo tempo até que ouvi de novo. Desta vez pude perceber que além de firme, era doce, suave. Uma voz de quem sente o que diz.

“quanto tempo é preciso para assumir o que se ama?”  A própria voz respondia: “O tempo necessário para olhar para o essencial com coragem”. Para uns demora mais do que para outros, pois os valores e apelos são diferentes para cada um. A essência de cada indivíduo é única.”

Revisitei a minha história – e eu estava lá! Peguei minha própria mão, caminhei suavemente e trouxe comigo minhas plantas,  ervas e flores, meus frascos, tinturas, alcoolaturas  e estava ali criando fórmulas de perfumes. Esta é minha melhor forma de meditar. Alias, estava como sempre estive, embora não manifestasse no mundo físico já há um tempo. “O mundo real” não é visível, é sentido.

Perfumeterapia tem o potencial de contar as histórias de vida via memórias olfativas/afetivas. O aroma vai buscar, processa e ressignifica. Claro que há ajuda profissional e compromisso nesse tipo de terapia integrativa.

Os Perfumes que contam estórias

Faço perfumes sim, mas não como as pessoas em geral conhecem. São estórias contadas, têm nome e sobrenome, que inclusive pode ser o seu. Alguns me perguntam como poderia chamar meu trabalho de “perfumeterapia”, argumentando que perfume não cura nada! Alguém aqui falou em doença?

Aromaterapia, ou seja, terapia através dos aromas. E é literal, simples. Minha prática Aromaterapêutica é diferente. Terapia via olfato, é meio poesia também. Estórias em gotas.

É certo que os óleos essenciais têm moléculas que carregam em si o poder do Universo e têm poder curativo. Mas para isso, há que se conhecê-las, conhecer o corpo humano e seus mistérios. Nunca tive a menor pretensão de estudar medicina. Reconheço minhas fortalezas e minhas fragilidades e a área científica nunca foi meu forte.

Estudar biologia, células, moléculas, o funcionamento complexo de um corpo humano é lindo, mas não tenho esse talento ou dom. Assim, de forma natural, meu caminho foi se abrindo diante das questões emocionais e espirituais.

Desde criança é assim. Alguém está com alguma questão emocional ou espiritual? Dentre uma multidão, a pessoa me encontra, ou eu a ela. Talvez seja empatia, talento, missão, mas seja o que for, o que posso afirmar, é que imediatamente me comprometo a encontrar palavras, conforto, explicações coerentes, intuições, enfim, algum alento.

 

Nosso trabalho envolve memórias

Precisamos de um tanto de intimidade com a alma humana para conectar, entender (ou não), mas ainda assim ajudar o indivíduo a cumprir a difícil tarefa de alcançar uma boa dose de autoconhecimento.

Só há um segredo, magia ou preço a pagar: a ajuda tem que ser pedida, fora isso, não há hipótese de uma palavra, uma molécula sair daqui, pois se assim não for, estarei invadindo um campo que não devo e o outro estará recebendo algo que certamente não estará preparado para receber. Se estivesse, teria pedido.

Acredito que o Ser Humano já nasça munido das ferramentas de que irá precisar para fazer um bom trabalho por aqui. Se fará bem ou mal, dependerá da aceitação, do empenho e compromisso.

Não. Não esqueci de dizer que a intuição, o sentimento e o respeito por si mesmo e a coragem de admitir quem somos e sentimos, faz muita diferença. Alguns são incentivados já em casa desde a infância a explorar tais ferramentas e a admitir seus gostos.

 

Negar o talento ou não exercê-lo gera desequilíbrios.

Quando isso não ocorre, o caminho pode ficar mais difícil, ocorrendo uma “introversão defensiva”, fazendo com que a criança se policie para não ser chamada a atenção ou até humilhada. Importante é que não desista por achar que está errada, ferindo a autoestima de maneira, muitas vezes, irreversível.

Experiência pessoal

Tenho que ser pessoal aqui, porque fica mais fácil, e posso falar com a bendita “autoridade”, afinal, o assunto sou eu.

Desde criança, bem pequena mesmo, sinto cheiros que a maioria das pessoas não percebe –   algo que muitas vezes me constrangeu seriamente.

Eu era uma criança, digamos, diferente – sonhava demais, sonhos elaboradíssimos e sentia cheiros demais… E estranhos. Uma vez passei  grande vergonha, pois fomos visitados por uma senhora, amiga do meu avô. Quando ela  chegou, muito educada, fez um cafuné no meu cabelo e eu, instintivamente me afastei. Meu avô, um “lorde inglês” – de Jacarepaguá, deu um sorrisinho e disse: “filha, essa é a Dona Yolanda, amiga do vovô”, como se eu fosse tímida e tivesse agido assim por vergonha.

Acontece que eu era uma criança educada, mas nunca haviam me dito que precisasse fingir. Então, expliquei que não gostava do “cheiro dela”. Simples. Constrangimento geral. Sabe o ditado que diz: “foi pior a emenda do que o soneto”? Pois é, acho que foi feito naquele dia.

Minha mãe, com um sorriso pela metade, disse que o perfume dela era muito bom. E a criança tão arianamente, responde: “não é o perfume não. É o cheiro dela.”

Arquivaram o assunto até o dia em que outras visitas vieram. Era uma família humilde, em busca de ajuda financeira. Duas mulheres e três crianças. A mulher mais velha estava sentada no sofá da sala com meus avós e as crianças brincando no chão.

Nós, as crianças da casa, não podíamos ouvir conversa de adultos, e ficamos nos nossos quartos. Porém, na hora em que estavam de saída, nos chamaram para  despedir. Quem mandou quererem ser tão educados? A senhora mais velha abaixou-se para me dar um beijinho simpático, e eu fiz uma careta horrenda, segundo contavam – não lembro bem.

Mas lembro da voz da minha avó me chamando em um tom medonho. Sabia que lá vinha bomba. Eu já ia inventando alguma desculpa com cara de vítima. “Sinhá Valéria, venha cá!” Que medo…! Quando me chamava de sinhá, a bronca era livre, valendo até puxão de orelhas, literal. (Naquela época podia rs)

“Por que você se comportou daquela forma com a Dona Mariazinha?” Respondi o óbvio. “O que eu fiz? Nem estava na sala…” Ela falou sobre a careta. Então eu disse que o cheiro dela era muito ruim, que até tinha me enjoado o estômago. Minha avó falou que eram pessoas humildes e que eu estava agindo de forma muito feia, pois era um tal de preconceito. Sabia lá eu o que era isso?

Fui salva pelo meu avô. Ele lembrou do episódio anterior, somou ao presente e acrescentou ainda uma informação – ela estava com problemas sérios de obsessão espiritual. “Talvez a menina tenha percebido algo”. Não entendi bem, mas gostei, pois evitou o temido puxão de orelha.

Meu avô era medium conhecido e ajudava muita gente. Me salvava dos pesadelos que tinha. Até os sete anos era um horror. Houve um dia que ele se aborreceu e deu uma bronca (em forma de oração) num “fantasma” que me atormentava com frequência, bastava eu ir dormir.

A maior autoridade! O fantasma não voltou por um longo tempo… Foi meu avô quem descobriu que eu sentia cheiros como avisos, cheiros de pessoas que ainda não tinham chegado lá em casa e ninguém nem sabia que viriam,  (mas logo chegariam), e outras coisas esquisitas. Tinha “cheiro de pesadelo”. Graças a Deus eu cresci!

Assim, desde cedo, soube que meu nariz captava cheiro de gente legal e de gente nem tão legal assim.  Vovô me testava sem que eu soubesse. Muita coisa foi evitada por ele haver percebido isto.

Ele era comerciante, e se eu torcesse o nariz para algum cliente, não tinha negócio. Aprendi e valorizei. Além disso, medium de cura, e meu olfato também prestava ajuda nesse sentido.

Juntava-se a isso a mania de misturar os perfumes caríssimos da minha mãe…! Sorte que esta explicava pacientemente que não podia,  e gostava das orelhinhas furadas com brinco de ouro da filha, para não querer puxá-las. Aprendi com minha avó a fazer tinturas para aliviar dor no joelho, remédio contra vermes, cólicas e contra tosse.

Devo confessar que meu critério era puramente aromático. Muitas vezes dava certo, mas dei trabalho aos meus avós. Aprendi. A gratidão e o amor expandem quando falo e certamente chega até eles.

 

Respondendo à voz

“Muitas vezes precisamos abrir mão de um ofício para exercer outro por exigência da Vida, seja financeira, emocional ou circunstancial. Durante os três últimos anos, me dediquei ao atendimento online com leituras de Tarô e Mapas Alquímicos. Necessidade  provocada pela pandemia. Aproveitei para montar meus próximos cursos – me aguardem!

Assim que passou o período crítico de dois anos de pandemia e voltei a sair com maior frequência, os cheiros voltaram fortes, e chegam até mim até quando não há ninguém por perto. Cada um equivale a uma situação, pessoa ou ideia. Identificar e descobrir a razão às vezes demora e dá trabalho!  Mas vale muito como aprendizado e pela alegria em ver os resultados quando  assumimos como trabalho – no caso, a terapia com aromas.

Foi assim que voltei para a Perfumeterapia.  E descobri que o trabalho mudou e agora é totalmente sistêmico. Agora? Acho que sempre foi e eu não sabia. A voz disse: “que diabos de sistêmico é esse que está presente em tudo? Tudo é sistêmico e quântico? Que papo comercial!” Respondi calmamente com “Não é não!

 

Um caso real

É sistêmico sim. Você é sistêmico, quer ver? Você tem sistema nervoso central, periférico, ((SNC, SNP), sistema límbico, olfativo, circulatório, cardiorrespiratório, digestório, geniturinário, musculoesquelético,  etc. Um indivíduo sente náuseas com frequência, eventualmente sente leve pressão na altura do estômago e decide ir ao endocrinologista. Lá chegando, relata ao médico, que o manda fazer endoscopia e mais alguns outros exames. Não mediu a pressão, nada perguntou – apenas pediu exames.

O cliente não conseguiu fazer os exames tão rápido, e um amigo sugeriu um cardiologista, pois seria bom; outro  tentou acalmá-lo sugerindo estresse. Enfim, chegou o dia do cardiologista e foi detectada hipertensão grave e alterações no eletrocardiograma. Faltou visão sistêmica, que triste!

Sorte, proteção, cuidado e inteligência do indivíduo em questão. Quanto ao endocrinologista, prefiro não comentar, mas direi apenas que foi irresponsável e desatento. Não considerou que somos um complexo de sistemas e que o sujeito ali na frente dele não era um estomago ou apenas um sistema digestório! No final, deu tudo certo.

Devemos ir aos médicos, fazer exames, mas devemos também questionar e prestar atenção se estamos sendo tratados apenas como um coração no cardiologista, dois pulmões no pneumologista, etc. Somos sistemas!

 

De lá para cá, muita coisa mudou

Agora então, volto para os meus perfumes e conto para vocês que todas as formas de anamnese que utilizei até hoje para fazer perfumes foram válidas, (aqui artigo de 2018 e 2005) considero todas, mas de lá para cá muita coisa mudou – equilíbrio dos elementos da Natureza;  questionário sobre remédios, doenças, alimentação, emoções, momento de vida; associação de palavras; símbolos; sonhos; e o principal ainda é o mapa natal alquímico, pois ali está a biografia da pessoa, com todos os setores de sua vida. Hoje o trabalho é mais profundo e direto.

Podemos ver sistema familiar, psicossocial, tendências em seus relacionamentos afetivos, com irmãos, trabalho, espiritualidade, talentos, saúde, sexualidade… Estudamos todos os sistemas.

Esse perfume vai curar algo? Quem poderá vir a trabalhar algo é quem o usará, a partir de sua responsabilidade com o autoconhecimento  e os insights que poderá vir a ter. O perfume será apoio, suporte e acolhimento. Ele poderá ser feito com base nos óleos essenciais que possuam a personalidade olfativa (minha abordagem de base).

Os aromas acessam memórias afetivas/olfativas que podem nos transportar para  lugares emocionais nos quais temos possibilidade de encontrarmos nosso lugar e criar novas memórias, ressignificando nossas vidas.

Podemos utilizar este tipo de terapia integrativa por si só, mas quando ela entra como complemento e apoio às terapias como Constelação Sistêmica, Tarô Alquímico, Mapa Natal e mesmo terapias convencionais é algo de grande efeito e resultados.

O meu trunfo na realização desse trabalho é que é feito em parceria com o Constelador Sistêmico que mais admiro e confio: https://valeriatrigueiro.com.br/marcelo

Crédito foto texto: https://unsplash.com/@jxk

 

Valéria Trigueiro

Valéria Trigueiro é perfumeterapeuta com experiência na elaboração de perfumes personalizados segundo o equilíbrio dos 4 Elementos. Seu trabalho define-se como "Aromaterapia e Espiritualidade.

All author posts
Write a comment