Há alguns anos frequentando as redes sociais não raro me deparo com pessoas afirmando cansaço com relação às indiretas que veem cotidianamente.
Falam sobre as fantasias, sobre as pessoas demonstrarem uma felicidade incrível, tudo cheio de adjetivos e com discursos diretos sobre amores à mãe, ao pai, às lindas crianças, melhores amigos, tudo perfeito.
Convivemos com isso tudo no dia a dia. Entretanto, hoje o post de uma amiga me chamou a atenção. Ela não é de exageros, ao contrário, pessoa de discurso direto, vida real, tem sonhos e corre em direção a todos eles. Não tem paciência de ficar reclamando na internet. Nem eu, e por isso mesmo, quase começamos um protesto virtual quanto ao mundo indireto.
Uma pessoa se aborrece com a outra através da tela e não pega o telefone e apresenta seu argumento, não briga, nem se acerta. Poderia falar diretamente como as pessoas reais, de caráter, e que sobretudo querem resolver seus assuntos.
Hoje parece que não. As pessoas têm medo. Prefiro achar que é medo, pois se pensar mais um pouquinho correrei o risco de descobrir que tem a ver com caráter, e insisto ainda em esperar o melhor, ou o menos ruim, pelo menos.
O que subjaz nisso tudo é o medo de amar direto, de ter raiva direto, ter atração direta. Verdade, até isso hoje fica em suspenso por detrás da tela. Vivemos em um mundo indireto, portanto cruel.
Como podemos lidar com pessoas que fazem discursos de amor, de raiva, defendem algumas causas, atacam outras, e se algo der errado, basta dar block ou unfriend, naquele que três posts atrás, era uma pessoa amadíssima, queridíssima – sim, aqui tudo é superlativo.
Basta não concordar com o post do “amigo” ou mesmo ouvir falar algo com o qual você não concordaria, que assume como verdade e ofensa pessoal. Resultado: seu amigo virou uma pessoa nefasta, foi banido do “seu mundo”.Foi mais fácil apertar um botão do que ouvir, não é verdade?
Ah… que mundo fantasioso onde se fala o que quer, se inventa personagens, faz-se sexo sem nem ao menos saber com quem, só com palavras de sedução, usando a criatividade, e onde não se sabe a cor dos olhos ou sente o cheiro do parceiro. Sim, muitos encontros são atrás das telas dos telefones e computadores. O programa Catfish está aí e não me deixa mentir!
Tenho visto coisas estranhas. Pessoas que ficam amigas, o que, aliás, é muito fácil. Maria conhece João hoje – isto quer dizer, o adiciona hoje, estuda seu perfil e finje que não fez isso, afinal Maria é ocupadíssima – descobre que João gosta de poesia, seu poeta favorito e como quem não quer nada coloca uma citação daquele poeta no próprio mural.
Claro, o bobinho do lado de lá da tela, lê aquilo como “afinidade intelectual”. Pronto! Mais um bom papo por escrito, claro. E se isso não funcionar, as horas passarem e Maria não vir um “like” na sua linda citação, ela se sentirá rejeitada, terá taquicardia, ficará triste, tudo como se fosse verdade. O que não funcionou? Ela acreditou no personagem que criou.
Agora o engano não é o outro. Ele funcionou contra ela mesma. Ela se enganou, acreditou no personagem, que na verdade não é um – são vários, depende do interesse do dia, da pessoa, do personagem e suas expectativas depositadas ali, no personagem João por detrás da tela.
Assim, como tenho visto gente testando sua capacidade de seduzir, de argumentar (não… não pense que o argumento seja real, lembre, estamos na era do “copia e cola”); de amar, odiar, festejar, desejar o bem, desejar o mal e, sobretudo, fingir a arte de ser feliz, ético, politizado e engajado em causas bonitas, peço a gentileza de lembrarem que temos carne, osso, inteligência (será?) coração e alma e voltemos à humanidade.
Sugiro colocar um espelho acima da tela de seu computador e antes de postar qualquer coisa, olhe-se nos olhos e pergunte a si mesmo quem está ali? Chame-se pelo nome, tipo: “Fulano, você está aí?”, “O que quer dizer e para quem”? Ao responder com clareza usando a emoção e os sentidos, aí sim, pegue o telefone e marque um encontro e diga o que sente diretamente, saia do mundo indireto, venha para a realidade. Ah… ela não está bonita? Mais um motivo para fazer algo de verdade. Só assumindo que você não é robô algo de humano acontecerá com você.
E para você que foi sumariamente bloqueado, não se sinta rejeitado. Afinal, não foi o você real e sim a projeção que o outro fez de você. Aliás, você também fantasiou ou simplesmente não verificou aquelas letrinhas de segurança para verificar se tratava- se de um robot. E era. Boa notícia: tudo não passou de fantasia!
E quer saber? Este texto é direto para todos nós. E dedicado à minha amiga Adriana Belotti com quem esse “papo” começou.
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