Ok, hoje é dia de Yemanjá. Muitas versões, muitas estórias, e todas belas. Não se pode dizer que uma seja a correta porque isto simplesmente não existe. Mito é símbolo, e uma característica dos símbolos é a de ser visto sob o ponto de vista possível de quem o vê ou ouve.
Assim, vou contar aquela que conheço por ter lido há anos atrás, o que significa dizer, que com o passar do tempo, minha memória pode tê-la modificado. Aliás, modificou sim, pois li outras versões, ouvi outras e quem sabe eu não tenha modificado o símbolo?
Ai meu Deus, que responsabilidade! Mas não se preocupe, pois a essência está mantida e em caso de necessidade, o Google está aí mesmo com muita gente boa falando sobre ela.
Conheci lendo Pierre Verger, um francês, expert em orixás. Lembro que era um livro grande e muito bonito. Devo confessar que tinha medo, pois achava que ele era “muito forte”.
Bobagens à parte, o medo foi embora, e o “muito forte” continuo achando. Vamos à lenda…, ou uma das versões.
Yemanjá era casada com Orunmilá, que era o deus dos oráculos, das adivinhações. Não sei exatamente como, se tinha divórcio entre os deuses, ou mesmo se havia algum acordo quanto ao assunto, mas a verdade é que ela casou-se também com Olofin, um rei, com o qual teve dez ou doze filhos – precisamos verificar – eu prefiro que fossem doze, pois a meu ver, faz mais sentido, cada um representando uma casa astrológica.
Não! Prometo não misturar as estações. Sei que um deles era Xangô – rei dos trovões e se manifestava junto com a chuva revelando segredos. E o outro filho seria Oxumaré – aquele lindo do arco-íris, que também se manifesta junto com a chuva.
Ocorre que ao casar, ela mudou-se de sua terra natal, Benim, para a terra de seu marido, Ifé. Ela não gostava daquele lugar e um dia resolveu fugir.
Sabemos que ela é uma deusa, e deusas são filhas de deuses, e por isso mesmo, apesar do risco em fugir, ela não titubeou em fazê-lo, pois tinha em suas mãos uma espécie de amuleto que lhe foi dado por seu pai, o deus Olokun.
Tratava-se de uma garrafa com um preparado muito poderoso e mágico, claro. A única recomendação que seu pai fez foi a seguinte: “Não se sabe o dia de amanhã”. “Leve esta garrafa com você e em caso de perigo iminente, quebre-a no chão.” “Caso não veja saída, não titubeie em quebrá-la, pois não se sabe o que pode acontecer amanhã.”
E como a vida apronta das suas até com os deuses, quando a deusa viu, estava cercada pelo exército de Olofin. Ela botou a mão na cabeça e pensou: “Eu não volto, uma vez a decisão tomada pela minha própria vontade, não me deixo pegar mesmo!” Tirou a mão da cabeça e colocou-a na cintura, olhou para os soldados e espatifou a garrafa mágica no chão.
Sabe o que aconteceu? Imediatamente formou-se um rio aos seus pés, levando-a de volta para Okun, o Oceano, exatamente onde residia seu pai, Olokun. Ela é a grande mãe, mãe de todas as mães, e protege a todos, não importando se filhos seus são ou não.
Apenas para mostrar como os símbolos funcionam e as estórias ficam registradas em nosso inconsciente ou nossa alma, que, aliás, prefiro. Conto para vocês o que aconteceu comigo.
Como vocês sabem, sou perfumista e na minha bolsa pode faltar até dinheiro, mas um ou dois frascos de perfume feitos por mim, não faltam não. A mágica acontece assim: sempre aparece alguém perto de mim precisando de uma das fórmulas do perfume de um dos frascos, isso é certo.
Um dia estava eu em uma situação de estresse extremo, precisando sair de uma situação difícil e instintivamente
peguei o meu perfume como se para me proteger. Quando vi que estava lidando com pessoas desequilibradas, nada disse, apenas joguei a garrafinha no chão com toda a fúria.
Fúria sagrada, pois as pessoas que me ameaçavam sem motivo aparente, ao verem a garrafa quebrar-se, como que por encanto, recuaram, me chamaram de louca e se afastaram. Graças a Deus e Salve Yemanjá, agora sei!
A partir do dia em que lembrei dessa lenda, este transformou-se em meu perfume de Yemanjá, que por coincidência leva um dos ingredientes que ela curte, que é a alfazema. E eu, uso alfazema? Não. Não gosto, mas naquele dia estava lá.
Todas as lendas são verdadeiras em um ou outro momento de nossa vida. Elas são vivas!
Sugestão para honrar Yemanjá: óleo essencial de lavandim + óleo essencial de sálvia esclareia. Saiba mais no nosso workshop – Aguardem agenda em breve.
Foto de Yemanjá: Escultura de Carybé fotografada por Sailko – retirada do site Creative Commons
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