O homem, a caverna e o junípero

Conversando com um amigo, mais uma vez eis que ela surge com suas sombras. Para quem não conhece a Alegoria da Caverna de Platão, resumidamente é o seguinte:

As pessoas nasceram na caverna e lá vivem, e de lá não saem. Estão todas voltadas para a parede, acorrentadas. A saída da caverna, uma fogueira, estátuas e vozes, tudo isto se passa atrás delas.

Tudo o que  podem ver são as sombras projetadas nas paredes e as vozes que ouvem são atribuídas às sombras. Elas não podem ver a si mesmas, tampouco uma à outra, portanto a realidade ali são as sombras.

Eles “conhecem” plantas, animais, outros seres humanos e uma “vida” paralela, a qual julgam real. Dão opiniões, fazem juízo de valores. Aquele é o mundo para eles.

Um dia alguém que sofria de tédio dentro da caverna e era inteligente o suficiente para acreditar que a realidade não poderia ser somente aquilo, se muniu de toda a força que a desconfiança aliada à intenção de mudar lhe privilegiou, e conseguiu forçar as correntes a ponto de arrebentá-las.

Com muita dificuldade, descobriu que tinha a capacidade de se mover como as sombras; descobriu que o que viam eram apenas isto – sombras projetadas pela fogueira na parede. Descobriu que as vozes não eram das estátuas e sim das pessoas, estas sim “reais”, que viviam fora da caverna.

Conseguiu se aventurar e quase desistiu devido à dor que sentia ao movimentar-se, pois seus músculos estavam ressecados, atrofiados, assim como seu pensamento e emoções.

Além disso, a luz fora da caverna, onde vive o Sol, feriu seus olhos. Entretanto, o homem estava disposto ao conhecimento, a exercer algo que apenas inferia até então. Ele era humano, ele existia, bem como as estátuas… ah… as estátuas…! Eram reais…! Eram reais?

Ele pode conhecer animais, plantas e gente de carne e osso. Viu o sol, a lua, conheceu mares, rios e pessoas de toda a espécie. De tão encantado que ficou, resolveu voltar à caverna para contar para seus “ex pares” que estavam enganados. Existia vida real além da caverna. Contou que explorou toda a caverna, que saiu, compartilhou tudo o que conheceu.

Lamentavelmente quase o mataram, pois não tinham condições de acreditar. Na verdade, tinham medo de acreditar e terem que enfrentar “o fenomenal mundo fora da caverna”.

Não o mataram porque eram tão parvos, lerdos e sem vida que não teriam força vital para tal.

O homem entristeceu-se, pois percebeu-se sozinho. Seria ele o “alienado”? “Estaria ele errado?” Foi acusado de louco!

Ah… muito tempo lidando com as sombras alheias, com as ideias alheias das cavernas alheias…

Agora, o homem tem o mundo, pode sair, perambular, contar o que viu fora da caverna para quem ele quiser, pois sabe que o ouvirá quem tiver ouvidos de ouvir e olhos de ver.

Ele sabe que tem sua própria caverna com cantos tão escuros, que tem medo de si mesmo e suas sombras. Ele fica paralisado ali, porém hoje sabe que pode sair, sabe como sair, pois o Sol o espera.

Ele sabe que precisa sair não para ver o Sol, pois este é parte de sua natureza. Ele lembra de uma música, faz uma prece pedindo ajuda ao Deus que habita tudo e todos, o Deus do Infinito que somos nós.

Ele sai dolorido, cansado, abre os olhos, vê-se no espelho. Ele é real, é belo e muito tem para contar. Suas aventuras dentro de sua caverna, dentro de sua mente, também são importantes, pois o mostram que tudo que existe no Universo é transmutável.

Ao sair deparou-se com uma árvore de junípero, uma das primeiras árvores a habitar o Planeta Terra e percebeu que ela mesma, uma árvore tem tudo o que precisa, inclusive folhas como agulhas para se defender.

Esta árvore libera um óleo essencial que é capaz de tirar qualquer humano do estado de letargia causado pela permanência muito longa em “sua caverna pessoal”, ele purifica os fluídos corporais, fortifica os rins, o ajudando a expelir pedras e toxinas do organismo. Ele traz aquele calorzinho de um abraço amigo quando saímos para o mundo “quase real” que vivemos. Ao sair da caverna, junípero!

Ele ajuda-nos a recuperar a vontade de viver, a força de vontade. É perfeito para quem se sente sem apoio, sozinho e perdido. Para quando nos perdemos em nossos próprios pensamentos e quando até aqueles que amamos parecem estranhos.

O uso deste óleo essencial vem nos ajudar a ver que somos sim sozinhos, posto que indivíduos – aquele que não se divide -, apesar de muitas vezes termos a pretensão de nos cindirmos para agradar nossos pares.

É um óleo de Marte e está associado à Hércules, aquele dos doze trabalhos. A boa notícia é que nós temos um único trabalho a realizar: sair da caverna, ver o sol, nos alimentarmos dele e sim, contar para quem precisar, quiser e principalmente, solicitar a novidade que ele descobriu: “existe a caverna, ela é sua, mas fora dela existe a luz que nos alimenta, protege e é infinita. Ele sabe que não pode negar a caverna – ela existe, e todos temos as nossas, negá-las é fugir de nós mesmos.

Saber a hora de sair para ver o sol pode ser difícil, mas lembrar que já vimos o sol e a lua e somos seus filhos, há de nos ajudar a voltar para nossas origens, como filhos do Criador. O mundo espera que contemos para todos o que vimos dentro e fora da caverna. Não para quem ainda acredita nas imagens das paredes, mas para nós mesmos, para nossos pares. Quem são eles? O Sol pode mostrar tão logo acabe a tempestade.

Olhe em direção ao crescimento do junípero, sinta seu aroma e assuma suas vontades. Pessoais, intransferíveis, assim como suas dores. Estas passam, o Sol permanece!

Oração do Junípero – publicada no artigo do link acima.

Para crescer, precisei ser pequeno;

Para ser doce precisei experimentar o amargo;

Para ser expansão, fui a própria contração;

Para ser cura, fui a doença;

Para ser dono de minha vontade, me perdi, fui  depressão;

Para ser coragem, aprendi, vivi, lutei e fui o próprio medo;

Para ser leveza, carreguei fardo pesado;

Para ter coragem de assumir a força, enfraqueci;

Para ter sucesso, fracassei;

Para vencer o luto, morri;

Para renascer, fui espírito, sou espírito.

Para ser resistência aprendi a fraqueza e a venci.

Para ser um homem fui meu próprio homem;

Para ser mulher, fiz o mesmo;

Hoje sou inteira, sou inteiro, me pertenço,

Sou fusão, sou andrógino.

Sou espírito, sou a força de vontade,

Sou a força e a vontade;

Reverencio o Universo do qual sou parte ínfima,

Mesmo assim sou grande, sou a união;

Sou raiz profunda, e por isso mesmo tenho asas,

Posso voar na direção que eu quiser.

Falo a verdade sem medo porque conheço o silêncio.

Sou verde como a cura;

Meus frutos são da cor Azul Planeta;

Mas podem ser pretos, amarelos ou vermelhos, sou eclético;

Sou outono por escolha, pois fui todas as estações;

Sou mãe, sou pai, porque fui filho, sou filha,

Sou guerreiro, sou pacífica, sou amor.

Eu sou Junípero ao seu dispor.”

Valéria Trigueiro

Valéria Trigueiro é perfumeterapeuta com experiência na elaboração de perfumes personalizados segundo o equilíbrio dos 4 Elementos. Seu trabalho define-se como "Aromaterapia e Espiritualidade.

All author posts
Write a comment